TEATRO PARA DANÇAR

sábado, 28 de outubro de 2017

CRÍTICA: Metamorfose, Primeiro Amor - A poesia dos ossos!

Vivaldo Franco - Atua e dirige o solo teatral inspirado
em Kafka e Beckett - Foto: Alice Rezende.
O espetáculo "Metamorfose, Primeiro Amor" traz a escolha livremente inspirada na obra de Franz Kafka (A Metamorfose) e Samuel Beckett (Primeiro Amor). No entanto a ousadia da junção se faz numa rigorosa pesquisa, trazendo para Cabo Frio, Teatro Quintal, uma leitura cênica, no mínimo, inusitada. É que, neste contexto, Vivaldo Franco comemora 40 anos de teatro. Hoje, com 57 anos, o artista está em pleno vigor da forma física e psicológica, suficiente para encarar de frente, a proposta monumental de colocar, no palco esta empreitada.
A cena traz energia e pesquisa, um corpo totalmente engajado na essência desta busca, vê-se logo, que Vivaldo está bem preparado para a batalha. Durante 70 minutos de peça, sua técnica de atuar se conecta com o clássico e o contemporâneo. De um lado, vê-se um ator econômico, que esquadrinha cada milímetro do palco, de forma paciente e clara, mais adiante, este mesmo ator, se desdobra em contrações e atitudes cênicas que vão, aos poucos, mostrando um domínio complexo do fazer teatral.
Vivaldo consegue, com sua respiração controlada e voz bem dosada, envolver o publico em sua história, apresentando de forma atlética mas não menos sensível, o repertório corporal necessário para se chegar à essência de um trabalho que exigirá do ator, um campo vasto de de técnicas e sentidos a postos para cumprir a tarefa. Portanto, é notória a entrega, a busca e as descobertas da nobre arte de atuar, no corpo poético do ator Vivaldo Franco, que também assina a direção do espetáculo.
O espetáculo tem sua excelência, também, na execução técnica, já que dispõe de interferência de sonoplastia que inclui trilha sonora e gravação de voz, além de uma iluminação pulsante que se equilibra com a movimentação, no palco. A cenografia, bem distribuída mostra objetos que tem função primordial. Tudo é aproveitável, tudo tem uma função, tudo é claramente disposto para servir aos signos essenciais a que a dramaturgia e arquitetura cênica se propõe.
Ao fim de tudo, deparamos com uma obra onde o ator é vedete principal, não sem reconhecer que, um trabalho harmonioso, precisa caminhar com a força de uma equipe coesa, e foi isso que deu para perceber, assistindo "Metamorfose, Primeiro Amor". Também destaco uma das mais poéticas formas de exercer o nu artístico, no palco, sempre um desafio para qualquer ator, no entanto, neste espetáculo, a nudez traz uma poesia que crava na pele do expectador, gerando a contemplação do corpo como instrumento de vida e afeto, para muito além de qualquer discurso de sensualidade gratuita, na verdade, o nu em "Metamorfose, Primeiro Amor" reforça a função do corpo no teatro, para muito além de qualquer forma de glamour consumista.
Fecho, recomendando este espetáculo, entrego-o nas mãos das novas gerações, para que vejam que o exercício constante do fazer teatral, a entrega intelectual e corporal de um artista, faz dele um integro representante de nossa arte, não apenas pelo que ela tem de belo, mas sim, principalmente, pelo que ela tem de pesquisa, de busca e de entrega a um ofício, de verdade.

CLIQUE AQUI para ler crítica de José Facury e uma entrevista exclusiva de Vivaldo Franco, para a revista "Teatro Possível". 

Jiddu Saldanha - Blogueiro.

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