TEATRO PARA DANÇAR

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Entrevista com o ator e diretor Marcelo Tosta

Vez ou outra encontro Marcelo Tosta pela estrada da vida. O artista mergulhado no mais profundo da arte, sempre me impressiona. A princípio você o encontra na simplicidade da vida. Ele troca algumas idéias, fala de coisas profundas, conta o que está fazendo o que está lendo, o novo quadro que pintou, mas nunca é arrogante, nunca se diz dono da verdade e não se sente melhor do que ninguém.
É que Marcelo é desses caras que não consegue ser superficial, sentar ao lado dele sempre vai ser uma viagem para um desconhecido qualquer. Ele não vive apenas uma vida de quem é comum, ele vive a vida do ouvido pra dentro, num submerso de si mesmo, num delírio "artaudiano" e "vangoguiano". Este é o motivo desta entrevista, eu quero mostrar aqui, um recorte de sua pessoa, sua figura, seus ideais, mas visto por suas palavras, narradas pelo seu coração.
Com vocês, MARCELO TOSTA!


Artaudiano e Vangoguiano, Marcelo Tosta é cidadão do
mundo. O mundo é seu quintal...
___________________________________________

"Eu nunca estive fora 
do movimento 
Teatral da cena de 
Cabo Frio, nunca! "

Jiddu Saldanha - Como é mergulhar no mar de nossa região, pelo viés do teatro? Marcelo Tosta é esse mergulhador abissal da arte?

Marcelo Tosta - Quando penso em mim, buscando reconhecer no organismo os primeiros raios e registros da arte, penso imediatamente em uma criança sentada no meio da sala, desenhando e escrevendo nas antigas sacolas pardas de mercado para tentar minorar a sua ansiedade. Talvez um traço já constante de que eu precisasse comunicar e tivesse alguma espécie de canal aberto, creio neste canal em todos nós, para poder dizer daquilo que estivesse entre os mundos e entre os entres de nossas esferas, psico esferas. 
Lembro também de mim, trancado no fusca amarelo do meu pai, ouvindo a rádio MEC, mesmo não tendo sido apresentado pela minha família. É da parte da descoberta, do risco e dos frios quatro dedos abaixo do umbigo equidistantes do sexo. É do marejar tendo ainda que como registro, a mãe zelosa demais, gritando para que eu não nadasse para o fundo, para não me afogar no meio das águas da vida.  A arte e o meu trabalho com as possibilidades da arte, não começou exatamente quando numa igreja abandonada na época, emprestava como palco,  o altar para que eu pudesse reconhecer Vivaldi e ler “Sonhos de uma noite e Verão”, me fascinando com Píramo e Tisbe, com Puck, Com Anaïis Nin citada por Artaud e eu nem podia imaginar que pouco tempo depois eu estaria nos palcos dando voz a este homem que trespassado em correrias e gritarias de existência, assim como eu, também gritava. Com 15 anos, comecei a dividir o que eu tinha necessidade de expandir e investigar com um grupo de almas que variavam a mesma idade ou mais que a minha naquela época. E comecei a dirigir a cia de pesquisas teatrais Religare, que até hoje cumpre e compra a briga de existir e insistir, sem financiamento e nem apoios. 
Nadávamos contra a corrente, dos preconceitos, das torpezas e indignações diante da sensibilidade possível e que sempre era motivo de repúdio para que permanecidos na ignorância, fôssemos incluídos nas rodinhas da vida. Eu sempre fui marginal, das figuras que estavam à margem e que aprenderam que era exatamente do lado da borda de fora, que ficava o maior do mundo. Eu poderia falar intensamente sobre meus primeiros registros na arte, já que sempre me sinto renascido todos os dias quando me vejo diante de sensações e de possibilidades de registros, que me são orgânicas e inevitáveis. Eu não evito a sensibilidade e nem excluo de mim o estudo aprofundado da minha existência, das existências, insistências e vontades reverberadas no Nosso mundo. Ainda que me dissessem “NÃO”, eu, do lado de fora, estava dentro do quintal do maior do universo e para isso, Nunca! Um único verso, palavras infinitas.


"Eu não evito a 
sensibilidade e 
nem excluo 
de mim o estudo 
aprofundado da 
minha existência"

JS - Quais os momentos vividos no RJ que vale a pena lembrar?

MT - O Risco do percurso saindo da roça para a cidade de pedras, a vontade celebrada no peito, para poder estudar, sendo pessoa vista como impossibilitada e sem recursos, para investigar o teatro fora da cidade pequena. (suspiro e conto até dez!) A Martins Penna, meus amigos que guardo até hoje no coração, professora magnífica da Romênia, Mona Lazar! Miojo, miojo, miojo! Vontade de voltar para casa para ver TV nas tardes de sábado com a minha mãe. Descobertas de que o riso não era propriedade das pessoas “engraçadinhas” que me julgavam depressivo. Um grande reconhecimento por minha capacidade de fazer comédia, mesmo sendo um ator conhecido por imersões dramáticas e profundas, fazer rir é ter entendimento sem medo do mergulho na dor. Eu não me lembro somente do Rio, me lembro do mundo! O Rio que corre lá, não corre menos aqui, dentro do meu peito e dentro do magnífico movimento que nós, atores, jovens, velhos de alma e ávidos de desejo, fazíamos ser e existir e não apenas pesar sobre a Terra em Cabo Frio. Do Rio ainda tenho muito a colher. Mas muito mais quero plantar pelo mundo. Eu sou do mundo! Eu sou do mundo! Do mundo!

Num clique de Alexandra Arakawa - 2008
JS  - De volta no movimento teatral de Cabo Frio com a cena "O Último Delírio de Van Gogh", quais são suas expectativas?

MT - Eu nunca estive fora do movimento Teatral da cena de Cabo Frio, nunca! Talvez Cabo Frio tenha expelido ou fechado por um tempo de nova semeadura, segregação, reforma, os outros artistas que estavam sempre ali, mas não eram vistos. Não estou falando com arrogância, estou falando com verdade que precisa ser revelada de dentro de mim, diante da pergunta que me foi feita. Vanisse, foi um trabalho que até pouco tempo estava sendo mostrado e vivido com a mesma intensidade de todos os campos e cidades e pastos e  estradas. Em São Pedro, não para nenhuma instituição política, vivemos o incrível “Quilombo de Cal”,  no Rio e também aqui. Muitas coisas aconteciam e eram notificadas pelas redes sociais. Eu não fui a Europa, ainda, mas ela estava conosco aqui, em Cabo Frio e qualquer lugar, estava o Brasil inteiro. O mundo estava aqui, está em mim, eu estava aqui perto com a Cia Religare, bastava que fizessem menos barulho para também  nos ouvir. Tenho aprendido com o tempo, cada vez mais, que é inútil pensar em "contracenação" se não estivermos dispostos a fazer silêncio. 
O Silêncio é sagrado, nele há uma ruidosa e encantadora música e fala milenar do universo, nos dizendo sobre o que o Tempo, pode fazer por nós, agora. Agora quero fazer Van Gogh! E quero fazê-lo com a dignidade que ele merece por sua grandeza, mas antes de tudo, pela sua sensibilidade que só foi reconhecida depois de ter sido esmagada pela falta de olhos que o percebessem e o retirassem desse enquadramento absurdo e violentamente cruel do que chamam de loucura! Então,  tudo que espero é ter competência e humildade para fazê-lo, mesmo que sabendo que ele não precisa de mim para viver, porque permanece vivo e grita suas cores e orelha pelo mundo  muitas vezes, completamente surdo.

Ensaio poético visual por Alexandra Arakawa
homenagem a Marcelo Tosta...



"O mundo estava aqui, 
está em mim, 
eu estava aqui perto 
com a Cia Religare"

JS - O teatro tem jeito, tem como revigorar esta arte nesta Cabo Frio, neste Brasil?

MT - O Teatro precisa de coragem! Não se faz teatro sem coragem, sem riscos, sem mar, sem vida, sem fogo nas ventas, nas “partes”, no corisco. Na verdade eu penso que o país precisa do Teatro e que o Teatro precisa ser entendido de uma vez por todas como profissão, como legado, como tarefa absolutamente imprescindível para que aconteça alguma espécie de deslocamento de nossas zonas de conforto nada confortáveis. O teatro precisa de gente abusada, de gente puta, de puta, Salve as putas! De Santos mártires que gozem por Deus! E que entendam que Deus e o diabo, sempre tomam chá, juntos no final da tarde. Não existe esta coisa chata de se trabalhar sem ter ganhos, sejam eles físicos ou secundários. Todo ator merece respeito pelo seu TRABALHO e o teatro não pode deixar de ser considerado como uma grande alavanca possível e próxima de todos nós, para que possamos despertar o mundo do sono da ignorância. O país precisa de nós e não de elitização. O teatro é tão fundamental e urgente quanto a fome. Salve Antonin Artaud! Laroiê!

JS - Quem é Marcelo Tosta por Marcelo Tosta

"E que entendam 
que Deus e o diabo, 
sempre tomam chá, juntos
no final da tarde."


MT - Um homem nu diante do espelho, que não tem a menor pressa em colocar a roupa.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Paulo Hugo - A Oficina

Vejo com certo regozijo a iniciativa do jovem ator, 
bonequeiro e contador de histórias, Paulo Hugo, agendado 
para uma oficina de animação num novo point cultural 
da cidade; Casa Ancorada. 

Paulo Hugo, desenvolvimento com o Teatro de Animação.
Paulo Hugo responde por uma das mais sólidas tradições do teatro de animação do estado do Rio de Janeiro. A família de Clarêncio Rodrigues, que tem levado para o Brasil e o mundo, muito da arte do teatro de Bonecos, estimulando um olhar e uma tradição, no mínimo, orientadora de caminhos de grande aprendizado no mundo teatral.
Paulo Hugo, a transmissão de seu olhar para a arte
da animação.
Enquanto me dirigia ao teatro municipal para mais um dia de labuta artística, encontro o "Paulinho", entusiasmado e feliz por ter sido convidado para levar seu experimento estético para quem quiser conhecer mais sobre a arte da animação, por um valor simbólico de apenas R$ 10,00. Eu particularmente acho que Cabo Frio precisa disso. Já que a cidade praticamente não tem investimentos na área teatral, para que um artista possa trabalhar aqui, é ir criando uma demanda no entorno de seu trabalho, aprendendo e ensinando o que sabe e, nesta caso, parabenizo a iniciativa de todos os envolvidos nesta oficina.
Paulo Hugo praticamente nasceu no mundo do teatro de bonecos, ele é a pessoa certa para trocar conhecimentos com a juventude que hoje busca novos conhecimentos e despertamento artístico, através de linguagens diferenciadas. O teatro de animação é um conhecimento tático para o ator. A médio e longo prazo, transforma o ator num ser meticuloso e perceptivo de camadas do fazer teatral que não é possível de outra forma. Todo ator deveria vivenciar um momento com esta linguagem, principalmente aqueles que vivem uma relação com a arte da palhaçaria e da mímica, por exemplo.
Foram muitos os momentos em contato com esta arte em Cabo Frio, quem aqui não esteve no Bonecart? Importante evento ligado à animação e que tem forte tradição na cidade. O Bonecart revelou muitos artistas desta arte, nacionalmente, mas também trouxe profissionais inesquecíveis que ocuparam o palco do Teatro Municipal e levaram essa energia em extensão para o espaço Sorriso Feliz, lugar de formação de berço para o artista Paulo Hugo.



terça-feira, 26 de abril de 2016

Fotógrafos que fotografam TEATRO em Cabo Frio.

Quando cheguei em Cabo Frio, em 2004, me impressionou a quantidade de fotógrafos que iam ao teatro, registrar a atividade teatral local.  São registros inabaláveis, de momentos que não se vive mais, a não ser, no recôndito do coração. Por isso, resolvi fazer esta publicação em homenagem a alguns fotógrafos que pude conhecer e trabalhar junto, de alguma forma!


Ravi Arrabal, clicado por "Dona Mariana Fotografia", durante
preparativos da peça "A Ilíada" do grupo Creche na Coxia.

MARCELAS RIMES - Quem quiser viver e ver momentos inesquecíveis do teatro de Cabo Frio, basta fazer uma visita na sede do Creche na Coxia e ver as belíssimas fotos tiradas por Marcelas Rimmes, a fotógrafa que criou, por volta de 2005 ou 2006, se não me engano, o Loft Fotográfico. Ela já registrava a atividade artística da cidade mas decidiu seguir carreira e hoje, dobra sua atividade como atriz do grupo Creche na Coxia e dedicação total ao seu ofício de fotógrafa. De lá pra cá, as fotos de Marcelas circularam pela rede social, construindo uma narrativa inesquecível do teatro local, embora este, não fosse seu foco principal como fotógrafa. Nos anos que se seguiram, Marcelas dedicou e dedica grande parte de seu olhar, a registrar momentos e sonhos de pessoas que querem viver seus momentos eternizados num clique fotográfico que valoriza a autoestima.

ALEXANDRA ARAKAWA - Quando cheguei em Cabo Frio, em 2004, a primeira fotógrafa com quem travei contato foi com ela, que todos chamam carinhosamente de Sandrinha. Seu trabalho foi de uma multiplicidade incrível, trabalhando no audiovisual, nas artes plásticas e no teatro. Seu trabalho nas artes cênicas tinham uma forte pegada conceitual. Sandrinha era daquelas pessoas que, quando cismava com um ator, registrava-o de diversas formas. Sua seleção de imagens do ator e diretor Marcelo Tosta é inesquecível. Focada na vida teatral da cidade, Sandrinha fez registros incríveis de grupos de teatro da cidade. Além de trabalhar na curadoria do FESQ, um dos mais importantes eventos de teatro do Brasil, ela também cuidava de fazer registros precisos de todas as ações possíveis durante este evento.

ANDRÉ AMARAL - André Amaral teve ótima atuação até por volta de 2012, fazendo registros esporádicos da cena teatral local, mas um de seus momentos marcantes foi fotografar o projeto 4x4, evento organizado por Fabio de Freitas e Bruno Peixoto, que marcou época na cidade. Posteriormente, Andre foi, também, o fotógrafo preferido do extinto grupo "Bicho de Porco". Vez ou outra, fazia seus registros de alguns trabalhos lúdicos da associação TRIBAL, como filiado. Seu trabalho, o entanto, se dividia entre fotografar teatro e cinema, além de belas fotografias experimentais com o tema natureza e ecologia. Sem dúvida, o olhar de André Amaral, deixou saudade. Por onde andará este grande artista dos cliques?


Irreverente, e muito focado, Marcos Homem trabalha por sua arte como
ninguém. Oferece oficinas de qualidade e tem discípulos espalhados pelo
Brasil a fora!
MARIANA RICCI - Conheci o trabalho de Mariana Ricci no festival de cinema de Cabo Frio, onde pude perceber seu trabalho sensível, com uma precisão lúdica e limpa. Sua imagem é, até hoje, uma dança poética. No teatro, Mariana somou ao movimento por volta de 2006, onde passou a registrar diversos acontecimentos no teatro da cidade. De todos, Mariana foi a fotógrafa que mais deu continuidade à sua narrativa. Durante a ultima década, pude vê-la fotografando videoclipes, pessoas, ensaios diversos e uma constante atuação no FESQ, festival de teatro mais antigo da cidade, além de contribuir muito com cliques para o grupo Creche na Coxia e, também, o Fest Solos, festival de teatro mais recente, surgido em 2014.
Mariana Ricci, olhar dedicado e presente no Teatro.

MARCOS HOMEM - Fotografo irreverente, brincalhão, amigo além de ser um excelente profissional. Marcos Homem costuma dar seu ar da graça, fotografando eventos no teatro e sua contribuição para o movimento local, aconteceu algumas vezes em espetáculos que estive envolvido, mas também, nas primeiras edições do FESQ. Ele também foi o criador do belíssimo e irreverente evento Pinga Foto, iniciado nas antigas instalações da casa dos 500 anos. Marcos, além de ótimo professor, com muitos discípulos espalhados pelo Brasil, e também um fomentador da atividade do fotógrafo enquanto profissão. Seu trabalho com a Mala da Fama é pioneiro, dentro do projeto, e sua linguagem como um esteta da fotografia, mostra que, além de seu domínio artístico, ele se comunica de forma direta com seu público e sua arte.

PAULO MAINHARD E MANU CASTILHO - O Casal de fotógrafos, tive a honra de conhecê-los desenvolvendo trabalhos de audiovisual na cidade, colhendo depoimentos de artistas locais que, posteriormente se tornariam videos documenteis. Com uma prática profissional intensa, não foram poucas as vezes em pude vê-los atuando no FESQ e também no Festival de Cinema de Cabo Frio. Colegas de trabalho que depois formaram família, casando-se e migrando para o Rio de Janeiro onde, hoje, estão mergulhados em projetos ligados a fotografia e montagem para cinema e audiovisual. Mais do que artistas dos cliques, Paulinho e Manu, eram incentivadores e fomentadores da atividade visual na cidade. Era eles que, junto com a fotógrafa Alexandra Arakawa (Sandrinha), faziam um belíssimo evento de fotografia, estimulando os fotógrafos locais a soltarem sua fúria criativa para o desfrute da cidade.


FLAVIO PETCHINICHI - Multi artista, o inquieto Flavio, deixou sua marca, fazendo registros memoráveis do trabalho da TRIBAL, com destaque para as rodas culturais e os eventos organizados pela associação. Flavio fez ótimos registros das ações no teatro e foi  também um incentivador da atividade artística em espaços alternativos da cidade, enfrentando uma época de fortes polarização política, mas nunca se deixou abater. Seus cliques eram focados tanto na estrutura cênica dos trabalhos em si, mas também, na atividade do artista em si. Seus ensaios nômades realizados com aristas de peso da cidade como, Letícia Marques e Tatiana Prota, são inesquecíveis. Um olhar profundamente tribaleiro e de grande impacto. Flavio partiu para outras terras, junto com seu grande amor, ou amores, mas deixou uma energia positiva e um exemplo perfeito de guerreiro focado na luta o tempo todo.


Sofisticada e profissionalíssima, Marcelas Rimes, também se dedica à
atividade de atriz junto ao grupo Creche na Coxia.
THIAGO ANDRADE (TCHÚ) - Basta você encontrar o "Tchú" e perceber que seu silêncio e seu sorriso tranquilo, revela a figura de um fotógrafo atento com seu olhar sutil. Somando ao trabalho da empresa "Dona Mariana Fotografia", Thiago começou seu trabalho por volta de 2010, se não me engano e passou a fazer registros da cena teatral de Cabo Frio com total dedicação. Muito do que se realizou na cidade, nos ultimos 5 anos, sempre tem um toque do nosso querido e dedicado "Tchú". Em 2015, ele fotografou o Fest Solos, junto com sua esposa, Mariana Ricci, e contribuiu para a riqueza do evento. Recentemente, Thiago voltou seu olhar para nova geração de artistas da cidade e acompanhou o grupo "Imaginário" praticamente durante seu nascimento, abrindo para um grande momento do teatro local.

RICARDO AMORIM - Ainda que excelente fotógrafo, Rick, como é carinhosamente chamado pelos amigos na cidade de Cabo Frio, é um artista com grande esmero e dedicação e, durante sua presença na cidade, ele foi uma das pontas de lança do audiovisual alternativo na cidade. Com uma sólida formação e um treinamento quase obsessivo, Ricardo chegou ás raias da perfeição com suas narrativas visuais durante quase todas as edições do Fesq. Seu trabalho com montagem e fotografia de audivisual, fez dele um dos nomes mais requisitados da região, graças, principalmente a seu olhar e a qualidade técnica de seu trabalho. Ele deixou um forte rastro de seu profissionalismo por aqui e, até hoje, os eventos de teatro da cidade, seguem seu exemplo.

MANUELA ELLON - Manu, como é conhecida no meio artístico local, é ao lado de Marcos Homem, talvez, a mais excêntrica dos profissionais da fotografia local. O trabalho de Manuela Ellon, tem grande impacto, pela sua forma narrativa. Ela faz questão de editar as fotos, aplicando elementos e conceitos visuais da Pop Arte, conferindo ao objeto fotografado, um certo tom extravagante e  poético. Seu trabalho, atualmente, está focado em narrar, visualmente as atividades do TCC - Teatro Cabofriense de Comédia; mas pode-se dizer que em fotografia ela já fez um pouco de tudo na cidade. Já fotografou o FESQ, o FesTSolos, peças e eventos de dança, além de ser uma das referências, atualmente, em fotografar eventos teatrais pelas ruas e praças de Cabo Frio.


Excêntrica e Sofisticada, Manuela Ellon é conhecida por sua narrativa focada
na tropicalização da Pop Art.
ALEXIS MALABI - Foram inúmeros os momentos em que pude encontrar Malabi, nas dependências do teatro, fazendo fotografias para o FESQ e outros eventos na casa de espetáculos da cidade. Inesquecível é seu jeito solidário de trabalhar, lembro que ele fazia questão de conversar detalhadamente com o dono do evento e fazia uma ponte segura entre os fotógrafos locais, para a distribuição dos mesmos, pelo evento em questão. Sua narrativa, seu clique, sempre certeiro, poético e suave. Uma vez, ele levou seus alunos de fotografia para uma inesquecível narrativa visual do FESQ, acho que por volta de 2012. Com resultados incríveis e belos. Saudades deste grande artista e amigos.

LARA ROTHIER - Talvez a mascote das fotógrafas e fotógrafos da Cidade, Lara fez alguns registros espontâneos durante algumas edições do FESQ e registrou, também, as primeiras ações do OFICENA - Curso Livre de Teatro, onde, praticamente foi fotógrafa exclusiva da primeira fase do curso, em 2013. Registrou com grande sensibilidade os espetáculos "Auto da Compadecida", "O Inspetor Geral" e o "Cenas do OFICENA" por dois anos consecutivos (2013/2014). Mas foi durante o Fest Solos que ela soltou seus cliques e amadureceu seu olhar para o Teatro, cobrindo o evento durante as duas primeiras edições. Lara, deixou uma marca de seu olhar e até hoje é lembrada por pessoas que experimentaram seu clique.


Manu Castilho e Paulo Mainhard, juntos, uma produção de arte, filhos e
muita poesia visual...
FELIPE HENRIQUES - Amalgamado na vida artística da cidade, Felipe Henriques está mergulhado em diversas atividades da cidade. Seu trabalho no primeiro Fest Solos, mas sobre tudo, sua narrativa em parceria com Fabio de Freitas, em eventos como o Clube do Poeta. Atualmente, ainda que trabalhe com a imagem parada, Felipe tem buscado um olhar dinâmico, a partir da fotografia documental de alguns parceiros de arte da cidade, principalmente, ligados à musica e o teatro.

ANA LUIZA BARBOSA - Ana Luiza e Yuri Vasconcellos, criaram, recentemente a "AYAMO" um selo para trabalhar sua parceira visual focada, principalmente, na fotografia. Com uma linguagem peculiar e pessoal, Anna tem feito registros importantes nos últimos dois anos. Acompanhando o Fest Solos desde o nacimento, hoje, ela é responsável pela direção fotográfica do evento. Atualmente, é uma das fotógrafas que mais tem se dedicado ao teatro das novas gerações. Registros de eventos importantes como apresentações de rua e junção de novos grupos de teatro, fazem dela, uma vertente nova na paisagem dos fotógrafos locais.


De passagem...

Generoso, Lucas Rocha gosta de ajudar sempre.  Um talento da nova geração
de quem ainda vamos ouvir falar muito.
Cabo Frio deve muito a seus fotógrafos. Estes artistas do olhar, fazem sua narrativa da cidade a partir da arte mas também ajudam a construir uma imagem positiva da cidade, expondo, não apenas suas belezas naturais, sua arte, mas também suas mazelas, sua história e seus mistérios. 
Hoje, fico pensando, existe uma nova geração de fotógrafos, sendo preparados na cidade? O fato é que, o teatro já não os atrai tanto, já que, com tanta tecnologia nova, o próprio público utiliza dispositivo que fazem registros, também interessantes, embora instantâneo e sem uma construção narrativa de longo prazo.
Dentro disso, gostaria de citar alguns nomes, de pessoas, que vez ou outra, percebo sua presença no teatro: Anna Paula Azevedo, que já esta se afirmando com seus cliques continuados. Daniel Arm, embora seja conhecido como ator, palhaço e músico, também empresta seus cliques em alguns eventos na cidade. Cleiton Fernandes, que faz alguns registros espontâneo em ações do OFICENA - Curso Livre de Teatro de Cabo Frio. Lucas Rocha, este, um nerd, conhecido na cidade pela sua generosidade e capacidade de interação com as novas tecnologias; lucas é autor de algumas proezas como, editar filmes e dar aulas de fotografias focadas no evento em si, reúne um time de jovens aspirantes ao exercício do Olhar e, dale cliques! Havia também uma jovem muito dedicada que circulava pelos bastidores da vida teatral da nova geração, seu nome, Nayara Alves, por onde andará?
Recentemente, dois nomes estão somando no trabalho visual com fotografia na cidade: Fernanda Rigon, cineasta, conhecida por seus trabalhos de qualidades incríveis e Mario Buzacchi, também cineasta e que, por vezes, também faz sua narrativa fotográfica, embora, seu foco principal seja o audiovisual. Emfim, esperamos que novos fotógrafos surjam e contribuam para a narrativa séria, da vida teatral da cidade, que, ainda com uma representatividade econômica precária, mas com uma robustez e organização cada vez mais forte.


sábado, 23 de abril de 2016

Quando os Grupos se Encontram.

Desde 2013, com a tentativa de formação de novos grupos na cidade de Cabo Frio, a vida tem seguido um misterioso fluxo até o atual encontro de sensibilidades, pelo qual a cidade vem passando. Depois de um longo e tenebroso inverno, onde as produções se resumiam ao trabalho de 4 ou 5 grupos, a turma que faz teatro está se mobilizando cada vez mais, para reinscrever a cidade, na paisagem do teatro nacional.

Agregando jovens do OFICENA, mas com total independência, o grupo "Artilharia" esta mergulhando na conquista de
seu espaço para representar a cidade que o acolhe.
"O OFICENA não é apenas um curso de teatro e sim um movimento cultural na cidade"; disse uma vez, a jovem Pamela Davis, ex-estudante de teatro. Há uma forte mobilização por parte de adolescentes e jovens, empenhados na formação de seus grupos. São notícias boas que não param de chegar. São grupos estimulados pelo FESTUD, um festival que abre as portas e o coração para jovens que queiram afirmar sua identidade artística fazendo fluir o melhor de sua energia criativa e produtiva.
Grupos: Artilharia, TCC, Operário do Teatro Brasileiro, Sem Foco, Imaginário, Homem Banda e a turma do OFICENA,
fazendo o teatro acontecer na cidade, num contato mais direto e pleno com a população.
Cada grupo investe na sua própria dramaturgia, não sem buscar referências e ampliar o conhecimento sobre o fazer cotidiano e a conquista de uma nova rotina de vida. Durante o processo de formação é necessário desenvolver uma diversidade de ações que vão resultar naquilo que de essencial cada grupo precisa, para afirmar sua identidade e transforma-la em ações. Dentro desse padrão e espírito de união, os grupos são colaborativos. Evitam a competição entre si e trocam figurinha o tempo todo, o que os faz ficar cada vez mais forte.
Novos talentos despertam e a cidade vai seguindo seu
rumo artístico!
Participar de um grupo de teatro é algo fundamental, principalmente para quem quer transformar a ação artística em profissão, de fato. São muitos afazeres, dezenas de ações que precisam ser "ensaiadas", para além da construção da cena de teatro em si. Lapidar o artista que vai dentro de si, depende de um conjunto de atitudes que passa, principalmente, pela relação com o outro e isso depende exclusivamente de dedicação, empenho e senso coletivo. Teatro não é uma profissão no sentido frio do termo. Teatro é uma construção, um estilo de vida, um jeito de olhar para as coisas e um investimento constante na autoestima.
A organização do nosso "Primeiro Encontro de Grupos de Teatro Surgidos do OFICENA", foi um mega-sucesso, acalentou a criação de muita gente e deu um toque todo especial, como parte da retomada do crescimento artístico da cidade. Os grupos construíram a pauta do evento e fizeram bonito. Capitaneados pelo corpo docente, fizeram acontecer o melhor da arte e construíram um evento repleto de participação colaborativa. A partir dessa fonte criativa e inventiva de desenvolvimento e construção, sera possível definir, num futuro mais que breve, uma sólida presença de novos grupos de teatro, voltados, principalmente, para a sedimentação de um possível mercado de trabalho. Mas isso ainda levará tempo.
Com uma nova geração de artistas batendo à porta, a fim de afirmar seus conceitos de vida e teatro, Cabo Frio garante seu passo em direção a um fazer teatral mais pleno. A construção de possibilidades novas, o desejo de afirmar linguagens tem um impacto forte e seguro na cidadania. Em um sistema onde o cidadão parece virar mercadoria, dá pra sentir um respiro, uma sensação de que a luta tá valendo a pena, a despeito de tantas injustiças permeando a vida de todos nós...

Jiddu Saldanha - Blogueiro
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sábado, 16 de abril de 2016

TCCexta 02 - O Sarau do TEATRO.

O TCCEXTA é uma ópera vivida por dentro. Existe um roteiro presumido e um roteiro que se constrói a partir da harmonia das relações e do trabalho conjunto do TCC-Teatro Cabofriense de Comédia e a equipe do Teatro Garagem.

Espaço aconchegante, corpos instalados para a fruição divina da arte.
Foto: Manuela Paiva Ellon

O Teatro Garagem é um espaço construído a partir da força de trabalho de um grupo e uma filosofia. Sementes plantadas muitos anos antes e que, hoje, é um sonho tornado realidade. E é dentro deste contexto que a equipe do TCC atua e interage. A presença de Silvana Lima e Ivan Tavares, traz para o evento um sentimento de que o teatro vive plenamente sua tradição e sua força e se prepara para seu papel mais profundo e primordial: O mergulho na alma, partindo para uma construção sólida de raízes bem fincadas no solo da criação artística. Poder ouvir Ivan Tavares, falar apaixonadamente para uma nova geração, sobre a aflição causada pelo momento crítico que vivemos na política nacional e, ao mesmo tempo, uma palavra de esperança e fé na arte do ator. Ao Final, Ivan canta uma canção símbolo para quem faz teatro. A música do inesquecível espetáculo "Bailei na Curva", do grupo "Do Jeito que Dá", que abriu as energias do teatro nos anos 80, indo fundo nos porões da ditadura, uma década antes.
Muitas coisas mágicas aconteceram, o próprio evento se reconfigurou, fazendo uma leitura viva do espaço garagem. A partir da segunda parte, o próprio espaço virou palco cedendo seu relevo à fúria do poeta Miguel Lima, por exemplo. Vê-lo em pé, sobre a contenção da piscina, recitando sua poesia com uma chuva de indignação e arte, uma passagem direta, sem atalhos, para o olho do furacão da arte, aliás, o dia 15 de abril foi o dia Mundial da Arte. Miguel não estava só. 

"Coração do Mar", uma performance feita com detalhismo e cuidado, aprovadíssima pelo plateia presente.


Celso Guimarães, costurava a presença de convidados com sua intervenção bem humorada e criativa, levando coragem para os jovens poetas que camuflavam seus poemas em smartphones e guardanapos, esperando a hora de subverter a timidez e confrontar os olhares gulosos da platéia. Em algum momento, Jorge Rodrigues, "declarou" seu poema, com uma fluência incrível, levando o público a repetir as falas como num refrão de música. Também nos emocionamos com a presença do poeta André García, que abriu a noite, com sua poesia corrosiva, mostrando um profundo dom de comunicar sua estética com força e muita energia criativa. Logo em seguida, Mery Damasceno, com toda sua irreverência, mostrava para a platéia lotada, os causos e histórias envolvendo Cabo Frio e Região, e depois, numa bonita interação com Mauro Silveira, dava ênfase à vida teatral da cidade, que ela conhece tão bem, com histórias que recolhe no seu magnífico trabalho de memorialista. Yuri Vasconcellos, não deixou por menos, mostrou claramente porque, hoje, é uma das grandes forças de renovação das artes visuais no estado do Rio de Janeiro. Sua obra consistente, tomou de assalto os olhares e deixou um rastro de luz por cada acontecimento do TCCexta 2.
A abertura, com exibição de audiovisual e a bela canção "Coração do Mar", interpretada pelo TCC, numa magnífica criação coletiva que fez o público se conectar com as forças energéticas provindas das sensibilidade do grupo, que esteve impecável e viveu plenamente, todos os estágios de desenvolvimento de um evento complexo mas não menos prazeroso de se fazer. Enfim, o TCCEXTA veio pra ficar e agora, é afinar a ferramente-arte para recriar e reinventar momentos como este. Momentos que nos faz dar um sentido ritualístico para o fazer artístico.

Jiddu Saldanha - Blogueiro