De uns tempos pra cá, o bochicho no meio teatral local, deixa escapar uma coisa ou outra sobre o espetáculo "Ilíada", mas "ninguém sabe quem falou", "quem disse o quê", "quando vai ser". Outro dia fiz uma cena de ciúmes muito feia com uma atriz do elenco; ignorei-a por quase 10 minutos, mas aí não aguentei, me aproximei, bem falso, e disse logo na lata... "e aí, fia, e o ensaio de Ilíada, desembucha.. logo"? Ela simplesmente abriu um sorriso de felicidade, como que a dizer, "está ótimo, estamos muito felizes e dando duro pra fazer teatro de qualidade". Achei o comentário "desaforado", fui logo procurar a Silvana Lima e me convidei para assistir o ensaio. Silvana, marcou a data e lá estive, domingo passado, dia 22, no Espaço Garagem e me deslumbrei.
O espetáculo "Ilíada", é revisitado por Silvana Lima, que imprime seu olhar dramatúrgico na adaptação do famoso poema épico, supostamente escrito por Homero, um poeta grego que teria vivido na antiguidade clássica, por volta do século 08 a.c.; neste caso, o texto mergulha no mito da guerra de tróia, mas a tecedura do texto tem a marca inconfundível de Silvana, experiente escritora, com diversas peças teatrais escritas e encenadas.
O espetáculo mais aguardado de 2014, com previsão de estréia para Julho, no teatro municipal de Cabo Frio, a julgar pelo ensaio que vi, tem grandes possibilidades de emplacar. Infelizmente, ainda não posso "dar com a língua nos dentes", em função do momento delicado em que a montagem se encontra: definição de algumas marcas, treinamento constante de elenco, etc... O que causou espanto, foi ver que ha um mês da estréia, o grupo já está, praticamente fazendo ensaio geral, quer dizer, que, quando o espetáculo estrear, os atores estarão completamente adaptados à complexa marcação e movimentação cênica e com o texto na ponta da língua.
O que me encantou durante o ensaio é a alegria dos atores, de estar em cena (entenda alegria como concentração e empenho). O trabalho está chegando lá, com ótimas partituras corporais, algumas surpreendentes. Pronto! Não falo mais, quem quiser saber vai ter que ver ao vivo.
Veja que interessante esse vídeo feito pelo próprio grupo!
"Não são poucos os momentos de crise e reconstrução que um grupo de teatro passa, mas observando o trabalho do grupo Creche na Coxia, aprendo sempre que para se conquistar um espaço almejado por muitos é preciso andar com as próprias pernas, dando um pequeno passo de cada vez. Nessa caminhada existe tempestades mas há a clareira e a suavidade dos grandes rios".
Contribuições do grupo Creche na Coxia para o teatro de Cabo Frio.
O grupo mais antigo, em atividade na cidade, é de 1979 e chamava-se Ziembinsky, em homenagem a um grande mestre do teatro, nascido na Polônia e que foi um dos reformadores do teatro brasileiro. José Facury, que também faz parte do grupo, fez um relato histórico no capítulo 06 do ensaio ""Cabo Frio - Um Século em Cena", . O ensaio está publicado neste blog, na íntegra (CLIQUE AQUI PARA LER O ENSAIO COMPLETO); mas foi a partir do final dos anos 80 que o grupo passou a ter o nome de CRECHE NA COXIA, resultado dos casamentos entre os artistas, que foram tendo filhos e continuando com a atividade artística; na medida que os bebês nasciam, acabavam sendo levados para os teatros onde eram amamentados e cuidados.
30 anos depois, o grupo segue a todo o vapor e espalha seu legado; um deles é abrir caminho para a profissionalização do teatro local, outro é o investimento em espaço próprio para manter firme a ligação com o teatro e buscar, cada vez mais, a sustentabilidade pois, aqueles bebês antes embalados para que o público não ouvisse o choro durante os espetáculos, hoje tem formação universitária na área humana com foco no teatro, comunicação, música, etc...
Outro legado importante do grupo, é a capacidade de despertar e consolidar talentos locais; um exemplo disso é a atriz Vivi Medina, que, além de versátil e dedicada, ampliou sua qualidade artística desde que passou a fazer parte das recentes montagens do grupo. Quando conversei com o ator Rodrigo Rodrigues, sobre seu convite para trabalhar em "Iliada", ele não economizou elogios, "trabalhar para o Creche na Coxia, é como fazer um curso completo de teatro, lá a gente lê, estuda e aprende novas linguagens com quem sabe fazer. Ao dizer isso, Rodrigo se refere ha uma prática de oferecer oficinas sobre as diversas habilidades exigidas num espetáculo, ou seja, o ator, leva seu talento para o grupo, mas traz uma bagagem ampliada de conhecimentos e amplia seu repertório pessoal de técnicas e possibilidades para sua carreira.
O que mais me encanta no grupo é sua linguagem atual, que busca fundamento nas técnicas modernas de teatro, onde a mímica é muito respeitada, o grupo, cada vez mais, distribui a linguagem do texto falado em complexas e poéticas partituras corporais, possibilitadas pela percepção de que o Brasil teatral de hoje, mescla uma dramaturgia tradicional com uma riquíssima e revolucionária linguagem do corpo e da música.
Encontrei no youtube este documentário sobre TRÓIA, a cidade
sitiada pelos gregos, na famosa "Guerra de Tróia", que é o tema
central do poema épico "Iliada".
Alunos do OFICENA - Curso Livre de Teatro de Cabo Frio
fazem seus depoimentos depois de assistirem ao ensaio geral de "A Ilíada", confira aqui.