TEATRO PARA DANÇAR

segunda-feira, 14 de maio de 2018

Macunaíma: Em busca do Brasil perdido.

Marcos Souza, Rafaela Solano e Rodrigo Rodrigues cena da peça
"Macunaíma" - Foto: Jidduks
A peça "Macunaíma", dirigida e adaptada por José Facury, com consultoria de Geraldo Chacon a partir da obra de Mário de Andrade, teve sua pré-estréia no USIN4, dia 12 de Maio, às 21h. Um dia antes da abolição e, portanto, momento simbólico para discutir um Brasil que agoniza na solidão e na melancolia. 
Tanto a obra de Mario de Andrade quanto a forma como o espetáculo foi conduzido, passa, de forma clara, uma sensação de que Macunaíma é um autêntico D. Quixote, lutando contra os moinhos de ventos da vida. Na platéia, o mais pleno silêncio, ainda que um ligeiro humor e até, por vezes, gargalhadas. Mas a peça disse a que veio, discutindo, de forma ácida, cômica, dramática e lúdica a questão da identidade brasileira.
O elenco foi um feliz encontro entre Rodrigo Rodrigues e Rafaela Solano, artistas já veteranos, da cidade, irmanados com a energia pulsante e criativa do ator Marcos Souza, da nova geração, que forjou seu conhecimento teatral nas escolas locais. Marcos é aluno do OFICENA - Curso Livre de Teatro do Teatro Municipal de Cabo Frio  e fez também a escola Marcelo Pires, onde se dedicou ao audiovisual e à interpretação para as câmeras. 
Desenho de Yuri Vasconcelos durante a pré-estreia de
"Macunaíma" - Acervo: Jidduks
O elenco não podia ser melhor escolhido, todos artistas de grande verve na arte da atuação, combatendo no palco para contar uma história que, até um certo ponto, é bastante complexa, já que, segundo a crítica, Macunaíma seria a tentativa de ir em busca das origens de um Brasil mais real, face a uma sociedade que se transforma e se acomoda nos "desvalores" da baixa autoestima de uma nação.
O trabalho de adereçagem, figurinos e cenografia, levam uma assinatura de peso. Tânea Arrabal e José Facury, trazendo para o palco, a síntese criativa desses dois artistas, que se dedicam ao teatro ha mais de 40 anos. A ideia de um cenário orgânico que se transforma em rede, floresta e até a grande São Paulo, funciona muito bem e faz o público viajar de um lugar a outro na velocidade do google.
A peça teve uma estréia justa e tudo fluiu. Atores nervosos, porém, focados em dar seu melhor. Equilíbrio e respiração para ajustar o corpo a um espaço cênico pequeno, mas acolhedor, foi o mote da noite de pré-estréia. 
Acredito que "Macunaima" vai crescer muito ao longo da temporada, que já está agendada para Rio das Ostras, num grande teatro e com temporada confirmada para Cabo Frio, no espaço USIN4 onde irá continuar por um mês e depois ganhar novos palcos pelo Brasil a fora. 

(Jidduks)

sábado, 12 de maio de 2018

O Blá Blá Blá de Mírian Panzer

Mirian Panzer - Domínio absoluto das técnicas de atuação em "O Blá Blá Blá"!
Ontem o teatro municipal de Cabo Frio, sorriu ao ver no palco uma de suas filhas mais ilustres. Isto mesmo, Mirian Panzer viveu sua primeira faze artística, em Cabo Frio onde sente maior orgulho em declarar sua relação de aprendizado e crescimento com o saudoso Frederico Araújo e o encenador Ítalo Luiz Moreira. Foi daqui que ela voou pro mundo. Hoje, com um belo espetáculo em seu repertório , "O Blá Blá Blá" de Alberto Soares, com direção de Sisneiros, ela segue construindo uma carreira sólida e determinada, como só os grandes artistas o conseguem.
No palco, ela dominou completamente as partituras corporais, fazendo uma cena com total sintonia à proposta da direção. Cada detalhe de sua movimentação tinha o encaixe perfeito e quem viu o espetáculo ontem, certamente, vai ficar com aquela imagem martelando em sua cabeça, uma triangulação pelo palco que começa com a participação da platéia. Mírian, habilidosamente, consegue com poucas palavras convencer o público a montar seu cenário, uma intervenção performática que dá um charme especial ao trabalho.
Outra coisa que é bom atentar é a respiração e e dicção para a emissão da voz. Numa peça com muito texto, chegar ao nível de vocalização que ela conseguiu, não é fácil. Uma atriz para atingir este grau de emissão precisa treinar muito o que vale dizer que, sem sombra de dúvida, "O Blá Blá Blá" é, antes de tudo, um espetáculo bem ensaiado e coloca Mírian no nível das grandes atrizes, sem sobra de dúvida.
Como disse Sisneiros, no ligeiro bate papo que teve com a platéia, o espetáculo foi criado com extrema complexidade mas pra fazer tudo parecer simples e, obviamente, quem conhece teatro sabe que nada foi simples. Cada gesto, cada movimentação e cada posicionamento na luz, exigia uma intrincada sequência e que, nós, com alegria, conferimos nesta deliciosa comédia dramática.
Aplaudida de pé, por um platéia composta em sua maioria, por alunos do OFICENA - Curso Livre de Teatro do Teatro Municipal, Míriam deixou claro que fazer teatro e um exercício meticuloso de dedicação, amor e perseverança. Ao final, sentimos claramente que este espetáculo, que tem apenas um ano de vida, ainda vai dar muitas alegrias nos grandes palcos brasileiros. 
Evoé, Mírian Panzer.

(Jidduks)