TEATRO PARA DANÇAR

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

FESQUIFF IV: Um festival cheio de oportunidades, com um forte olhar institucional.

Matheus Neves, hoje, estuda teatro na UNIRIO.
Viver o FESQUIFF foi uma experiência única. Dá pra sentir quando um evento tem o peso e a responsabilidade institucional que o teatro tanto precisa. Com o afago de uma organização federal tão potente como o Instituto Federal Fluminense, IFF, Deu pra sentir a força que o teatro tem, como ferramenta educadora, sobretudo quando mobiliza a experiência de organizações como AYAMÔ, NÓS DO TEATRO e OFICENA; Juntos, Campos e Cabo Frio se uniram para mostrar a capacidade que a arte tem, de mobilizar jovens e concentrar possibilidades e sonhos.

Matheus Neves, representa a síntese
de tudo o que deu certo no teatro de 
Cabo Frio nos últimos 4 anos. 
Formado em Petróleo e Gás pelo
 IFF de Cabo Frio. Fez, paralelamente
as aulas livres do OFICENA - Curso Livre
de Teatro do Teatro Municipal. Foi 
integrante dedicado de um grupo de teatro
durante 2 anos e culminou com a aprovação
para estudar teatro na UNIRIO, talvez, 
a mais importante escola de teatro do Brasil.



Se por um lado são "tempos difíceis" para a cultura e a vida do país em geral, o importante é resistir e resistir com arte é uma forma transformadora, já que, ao mesmo tempo que dá vasão à criação e ao princípio de amor humano que está ligado ao fazer artístico, por outro lado, desperta consciência crítica e amplia a visão sobre o futuro. Com uma área de arejamento da alma, o indivíduo passa a construir não apenas uma visão sobre si, mas também, entender o imenso universo de diferenças que afeta a todos. Ganha a instituição, ganham os parceiros e, sobretudo, a educação cumpre seu real papel, de promover junto com o compromisso, a felicidade humana.
Ver tantos jovens se organizando para transformar a festa do IFF numa energia que uniu todo mundo, foi, sem dúvida, um grande alento para quem curte e gosta de teatro, e que acredita na transformação que o teatro traz para a vida dos jovens. Foram 3 dias de muita emoção, descoberta, e entrega artística. Uma força voluntária que fez levantar a poeira e trouxe o sabor do teatro para o universo estudantil de forma eclética e saudável. Não faltou criatividade. Grupos independentes como o TCC - Teatro Cabofriense de Comédia, Operários do Teatro Brasileiro e Imaginário, e grupos de escola como o IFFCENA, fizeram a festa acontecer, ainda, com a presença de um grupo forte e profissional, como o NÓS DO TEATRO.
Com diversas instituições representadas e o Teatro Municipal de Cabo Frio, resistindo à fúria avassaladora da crise econômica que assola Cabo Frio, tivemos, enfim, uma ilha de tranquilidade por onde deixar escoar um pouco daquilo que foi plantado com amor, engenho e arte, através do OFICENA, que teve a ajuda e participação de tantos mestres que pelo curso passaram, destacando Italo Luiz Moreira, Yuri Vasconcellos, Jiddu Saldanha e presença da secretária que nunca deixou a peteca cair, Nathally Amariá.

SARAH MARQUES
Atriz símbolo da resistência cultural do FESQUIFF

Sarah Marques: Atriz cega, deu um show e demonstrou grande domínio de cena,
numa dramaturgia complexa e profunda, membro do grupo "Nós do Teatro" foi
dirigida por Cátia Macabu.
A atriz Sarah Marques comoveu a platéia, no papel de Silvia, uma esposa irônica e cheia de estratégias e argumentos para lidar com Mario, um marido apático e que parece não gostar da esposa, ao longo dos diálogos, entre armadilhas psicológicas e muito cinismo, o casal vai revelando o grande segredo de sua relação infeliz. Escrita por Pedro Block na década de 50, do século passado, a peça foi mais representada do que as peças de Nelson Rodrigues que, se declarava fã incondicional e, num certo sentido, se inspirou em "Os Inimigos não Mandam Flores" para escrever algumas de suas peças.
Sarah, uma atriz cega, de apenas 24 anos, com a força de sua personagem, comoveu a platéia principalmente, por se mover como pluma pelo palco, tateando de forma sutil os objetos ela conseguiu fazer com que o público enxergasse um outro olhar sobre a famosa personagem de Pedro Block, trazendo não apenas sua beleza de expressão, a delicadeza de sua interpretação mas, sobretudo a coragem de sua atuação. Sem dúvida, de todas as montagens que já vi, desta peça, guardarei esta no meu coração, por ter visto no palco uma "Silvia" única. Foi a primeira vez que vi a personagem sendo interpretada por uma atriz cega que, aliás, estava muito bem dirigida por Cátia Macabu.

Teatro lotado na ultima noite, o público soube mostrar seu amor aos jovens
que foram contemplados com uma festa teatral para que eles pudessem viver
seu protagonismo.
Outro grande trunfo deste festival foi, sem dúvida, sua natureza não competitiva e o cuidado de garantir um troféu para todos os grupos participantes. Sem gerar competição, sem construir um caminho onde uns se sobrepõe sobre os outros, o festival conseguiu, também, fazer um reconhecimento ao trabalho dos jovens que se empenharam em fazer do teatro um momento de luz para enfrentar os moinhos de ventos da vida e, sem dúvida, todos fizeram por merecer. Os grupos de teatro locais e de outras cidades do interior do estado do Rio de Janeiro, estiveram profundamente conectados com uma forte energia de amor e reconhecimento.

IFFCENA 

O Nascimento de um conceito de grupo de teatro para estudantes de uma escola com grade curricular puxada, ganhou, definitivamente, seu espaço. Com uma estréia incrível e a participação apaixonada e dedicada da primeira geração do grupo. Pioneiros, responsáveis por pavimentar o caminho do teatro, num curso técnico de alta performance educacional.
Inspirados pela energia vulcânica dos professores Henrique Selani e Bruno Pereira, o IFFCENA trabalhou um ano e meio para chegar ao formato de seu primeiro espetáculo: "Estação Poesia" com dramaturgia e direção de Jiddu Saldanha, o grupo partiu dos poemas do professor Henrique Selani que também foi o articulador e diretor assistente, até chegar ao resultado que foi ovacionado no Teatro Municipal por um platéia lotada e efusiva. O IFFCENA chegou a ter mais de 30 participantes, mas, durante um ano e meio de trabalho, a realidade educativa da escola, o estresse dos alunos, tendo que fazer um esforço extra para praticar teatro, dentro de um contexto que os favorece muito mais para enfrentar pesadas provas preparatórias, acabou estreando com 8 participantes, os pequenos "Heróis da Resistência" que levaram o charme do teatro como atividade pioneira o IFF- Cabo Frio, o resto é história.

Com uma forte tradição no fazer teatral, o FESQUIF IV contou com a eficiência e experiência de quem já faz teatro de forma organizada ha muito tempo. Todos ganharam e Cabo Frio mostrou que tem capacidade para garantir que o teatro local
tenha um glorioso futuro.
PROMESSAS E POSSIBILIDADES PARA O TEATRO LOCAL RESPIRAR.

O teatro de Cabo Frio, precisando urgentemente de socorro e de uma respiradouro para se afirmar, este ano de 2016 enfrentou de tudo, principalmente uma crise econômica com forte impacto político que resultou no não pagamento de professores e desmantelamento de toda a infraestrutura do Teatro Municipal de Cabo Frio que, para funcionar, conta com a ocupação dos alunos do OFICENA e alguns funcionários que ainda resistem, apesar da falta de pagamento.
No entanto, o IFF, acena com a possibilidade de novas parcerias e de uma presença mais marcante no teatro local, através de ações que podem contribuir, e muito, para que a atividade não só, cresça, como também, ganhe possibilidade e energias suficiente para seguir sua tradição que já tão forte na cidade de Cabo Frio. Seja como for, a sensação é que, apesar de tantas dificuldades e falta de apoio, uma luz começa a acender no fim do túnel, trazendo uma atmosfera de grandes esperanças para a categoria artística local da cidade de Cabo Frio.

Jiddu Saldanha - Professor de Teatro e Blogueiro.

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