TEATRO PARA DANÇAR

sábado, 14 de outubro de 2017

Crítica - "Aurora da Minha Vida" - Um libelo contra a opressão e falta de democracia!

Ator Gurstavo Seabra -  Foto: Pedro Brandoff
São muitas coisas que emocionam ao ver um espetáculo como "Aurora da Minha Vida", sem dúvida, muitos acertos como, por exemplo, a impagável atuação de Gustavo Seabra e Tamires Nazareth, que seguram o eixo da peça do início ao fim, não deixando o ritmo cair. O elenco está bem equilibrado como um todo, mas de alguma forma, e em algum momento, cada ator tem a oportunidade de expressar a qualidade se seu trabalho. 
A peça está bem intensa e traz uma densidade oposta à peça "Bailei na Curva", uma das montagens da prática do Teatro Quintal de 2016 e que trazia boa parte do elenco de "Aurora da Minha Vida". Faço a comparação por serem peças de assuntos semelhantes e que foram escritas com 2 anos de diferença, "Bailei" 1983 e "Aurora" 1981. Enquanto "Bailei" mostrou cenas mais leves com um ritmo suave, "Aurora" apresentou um mundo sombrio e pessimista, assinalando, um ambiente melancólico, uma espécie de martírio sofrido por crianças, vítimas de um sistema educacional capenga, careta e preconceituoso. 
Uma geração cada vez mais madura, com um bom repertório de peças no currículo, engrossou o caldo da Prática de Montagem 3, do Teatro Quintal. Jovens que circularam nas mãos de diversos diretores da Cidade, como Italo Luiz Moreira, Silvana Lima e José Facury, agora, experimentam a direção de um dos mais jovens e promissores diretores do teatro local. Dio Cavalcanti conquistou a confiança de seu elenco e demonstrou firmeza na condução e nos desenhos das cenas a que se propôs.
Do ponto de vista de uma visão ampliada do fazer teatral, "Aurora" traz um belo uso do espaço cenográfico, dando ao tearo de bolso um ar, realmente de escola, principalmente pelo uso da janela, ao fundo, como uma ambientação multiuso e que amplia, na imaginação do público, a ideia de uma escola em seus espaços diversos. Também cabe destacar, as cadeiras, expostas de forma incompletas, esqueléticas, com aros aparecendo na parte do apoio. Isto triou a tentação realista da peça, e fez o diretor se divertir pelo mundo do surrealismo e teatro do Absurdo. Os papéis amassados, jogados pelo chão, dão um tom de agonia, delírio e decadência que, moldada pela sonoplastia e uso ativo da iluminação, tudo ganhou um tom triste, melancólico, decadente. Uma paulada no nosso sistema educacional, porém, com uma visão datada, uma escola do passado, onde nenhum aluno batia no professor, apesar de tudo.
No cômputo geral, "Aurora da Minha Vida", aconteceu na estréia e vai continuar acontecendo durante a temporada, a única coisa a lamentar, no momento, é a curta temporada. Apenas 6 apresentações num espaço de 50 lugares. Seria bom se a peça continuasse em Cartaz. Quem sabe, uma conversa entre diretor, produção e elenco, resolva a questão? Para o ator, quanto mais se apresenta uma peça, é melhor. Para o público disperso de Cabo Frio, é um tempo para se achar e encontrar o rumo do teatro local. Para a cidade, uma forma de oferecer turismo cultural para que vem de fora. Porque não?

SERVIÇO

AURORA DA MINHA VIDA
A 3° Edição da Prática de Montagem do Teatro Quintal 
apresenta um clássico de Naum Alves de Souza.

Texto de Naum Alves de Souza
Adaptação de Silvana Lima
Direção de Dio Cavalcanti

Em cartaz nos dias: 13, 14, 15, 21 e 22/10 às 20:00

Foto by Pedro Brandoff

(Jiddu Saldanha - Blogueiro)

Nenhum comentário:

Postar um comentário