TEATRO PARA DANÇAR

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

HOMINUS - O novo espetáculo do grupo Creche na Coxia.


Com 30 anos de existência o grupo Creche na Coxia tem uma história que enche os olhos de qualquer artista que queira levar a arte do teatro a sério. Como se não bastasse, o grupo que polemizou e questionou Cabo Frio desde a década de 80 agora goza do triunfo de ver uma nova geração de artistas fazendo um teatro crítico, ético e esteticamente ousado.


Foi assim que, no dia 22 e 23 de Outubro deste ano (2011) a cidade de Cabo Frio conferiu de perto a mais recente produção do grupo: “HOMINUS”. Um espetáculo forjado numa nova visão cênica dentro do processo criativo do grupo.
“HOMINUS” é uma criação dos 4 atores (Diogo Cavalcanti, Helena Marques, Matheus Lima e Patrícia Ubeda), que abriram mão de seus egos para viajar coletivamente na essência do teatro, indo no cerne da criação corporal para buscar registros arquetípicos que pudessem dar o tom narrativo/teatral do espetáculo.
O Resultado ficou explícito nos olhares de satisfação do público que, se por um lado, se divertiu porque viu teatro de qualidade, não perdeu o fio crítico e reflexivo que o espetáculo propunha. “HOMINUS” ganhou a simpatia da platéia e também se revestiu de responsabilidade ao levar adiante o legado do grupo Creche na Coxia.

Um teatro corporal.

Quem conhece o grupo Creche na Coxia está habituado a ver pesquisas em diversas linguagens. Teatro musical, formas animadas, teatro de bonecos e agora com mais intensidade o teatro corporal. Sim, parece redundante, já que todo teatro, em essência, é corporal, mas aqui, utilizamos o termo para afirmar que “HOMINUS” entra numa seara radical da pesquisa do corpo do ator dentro de uma identidade mais narrativa, distanciada e menos incorporada. A identidade da nova geração do grupo Creche na Cochia, ao que nos parece, aponta para um teatro onde palavra e gesto tem peso igual e/ou aproximados, saindo de um teatro discursivo na busca de novas conexões formais.
Identificamos, no espetáculo “HOMINUS” a forte presença da mímica vocal e teatral através do teatro físico com forte influência do teatro performático inglês. Natural, já que parte da partitura corporal de “HOMINUS” foi construída na LISPA (London International School of Performing Arts - Escola Intenacional de Artes Performáticas de Londres), que recebeu, em 2010, os artistas Matheus Lima e Helena Marques, ganhadores de bolsa FUNARTE para estudos naquela instituição.

Efeito Multiplicador.

O efeito multiplicador da linguagem cênica apreendida por Helena Marques e Matheus Lima merece ser citado aqui, já que, no espetáculo, os atores Diogo Cavalcanti e Patrícia Ubeda demonstraram grande afinidade com a linguagem corporal, prova de que, técnicas bem assimiladas podem ser repassadas e estruturadas na cena com artistas mais distantes das matrizes. A multiplicação da linguagem e da técnica torna viável o contato com novas formas de teatro, desde que os artistas se dediquem e se entreguem às propostas, como bem pudemos conferir no espetáculo “HOMINUS” 4 atores movendo-se habilmente num espaço cênico mínimo mas que se agigantou aos olhos do público extasiado.