TEATRO PARA DANÇAR

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Uma fotógrafa de se tirar o chapéu - Mariana Ricci!

Mariana Ricci é o nome da fotografia em Cabo Frio e região, seu trabalho, com muitas vertentes, tem uma que é bem especial. Fotografar cenas teatrais. Um trabalho visual narrativo, que acompanho a mais de 10 anos.
A construção do olhar de Mariana, passa por diversos suportes e uma série de possibilidades, e, sem dúvida sua marca mais forte é a generosidade. Conhece a cena teatral de Cabo Frio, por dentro e, talvez, por isso mesmo, ela é tão indicada para repassar conhecimentos tão importantes para quem quer construir seu próprio olhar sobre a arte local. (Jiddu - Blogueiro)

Mariana Ricci já fotografou grandes eventos de Teatro em Cabo Frio: FESQ,
FESTSOLOS, são dois que vale a pena citar! Ela também fotografou grupos de
teatro e seu clique é conhecido de todos os artistas da cidade.
Cabo Frio recebe 1ª Oficina de Fotografia Cênica

Acontece neste sábado (10), no período das 10h às 16h, a primeira Oficina de Fotografia Cênica de Cabo Frio. O pequeno curso será dado pela fotógrafa Mariana Ricci, que atua na área desde 2008. O local escolhido para o dia de aula foi o Espaço Usin4, na Rua Geraldo de Abreu, número 4, no Jardim Excelsior.
Segundo Mariana, a ideia para a oficina surgiu no ano passado enquanto assistia a um espetáculo no Teatro Municipal de Cabo Frio.
- Vi que o grupo tinha um fotógrafo, mas ele não se comportava de maneira muito correta no ambiente teatral tirando a atenção do público muitas vezes. Foi a partir daí que comecei a juntar dados para poder dar uma oficinal especial – revelou a fotógrafa, ressaltando ainda que apesar da oficina atrair outros colegas de profissão, a ideia é chamar também membros de grupos teatrais.
Clique no ator Ravi Arrabal durante a
apresentação de ILIADA - 2014
É importante que diretores, atores e demais profissionais de teatro tenham uma mínima noção fotográfica. Isso ajuda não apenas na hora de economizar, mas também na hora de montar cenas, por exemplo – conta Mariana.
Junto a tudo isso, a vontade de levar para outras pessoas o que aprendeu nesses oito anos de espetáculos de palco, rua, esquetes, espetáculos de dança e circo, fez com que a timidez fosse deixada de lado.
- Acredito que devemos passar à frente o que sabemos. Guardar conhecimento nos torna egoístas e acabamos nos perdendo no nosso ego. Trocar conhecimento é a chave para vivermos melhor em sociedade e com a gente mesmo – comenta a fotógrafa.

Porque aprender a fotografar espetáculos?

Um artista de Referência, Rodrigo Rodrigues
já é íntimo dos cliques de Mariana Ricci.
Um olhar aguçado, aquele clique na hora certa, pode mudar o destino de um artista. Certamente, Mariana já viveu isso. Poder ver o artista crescer, criar sua própria teia relacional e se conectar com seu público é, um crédito que não vai só para o artista em si, mas, também, para o fotógrafo que deu o flagrante na hora certa.
Fotografar artistas é um estilo quase sob pressão, requer senso de oportunidade, observação e domínio dos dispositivos básicos da câmera. Para chegar a um nível de performance como o de Mariana Andrade, é preciso, acima de tudo, amar o que faz e isso ela não tem pudor de mostrar. Quem vir seu trabalho, tiver a sorte de percebê-la em um evento, vai topar com muita concentração, domínio do olhar, do equipamento e, claro, todo um suporte artístico possível de encontrar em suas páginas da internet e facebook: FLICKR e DONA MARIANA FOTOGRAFIA!

Não perca, este é um momento especial e único para aprender com quem sabe de verdade. Corra atrás, vagas limitadas:

SERVIÇO:

Oficina de Fotografia Cênica.
Data: 10.12.2016
Hora: Das 10 às 16h.
Fotógrafa: Mariana Ricci
Local: Espaço Cultual Usina 4
Endereço: Rua Geraldo de Abreu n. 04 - Jardim Excelsior - Rua da Ampla.




sábado, 19 de novembro de 2016

Coração do Mar - Novo espetáculo do TCC - Teatro Cabofriense de Comédia.

Inspirado no movimento tropicália, a nova obra artística do TCC - Teatro Cabofriense de Comédia, tem a pegada de um pré-musical em formato de coro cênico. Uma mistura de gêneros artísticos onde canções são mostradas no embalo da MPB e ao mesmo tempo, interpretadas com o uso de técnicas corpo-teatrais.

"Coração do Mar" - Novo trabalho do TCC - Teatro Cabofriense de comédia. Foto: Manuela Ellon
Resultado de um ano e meio de ensaio que avançou entre a experiência de cantar nos cortejos de apresentações de rua, somado à busca de um repertório afinado com as pesquisas do grupo; "Coração do Mar" é um espetáculo que mostra as novas pesquisas cênicas do grupo. Utiliza técnicas teatrais como Teatro Físico, voz e nuances de teatro oriental, numa composição de coro cênico e musical de opereta, dentro de uma musicalidade contemporânea.

Um pré-musical, com pegada de coro cênico onde se misturam técnica teatrais e vocais. Foto: Manuela Ellon
Buscamos no repertório da MPB, músicas que dialogam com as novas gerações, sem perder o viés histórico da canção popular brasileira, fruto de profunda poesia e ritmos que extravasam a sensibilidade e o inconsciente coletivo musical de nossa cultura peculiar. Dentro dessa musicalidade, acrescentamos textos poéticos que dão energia à cena, conforme a disposição corporal do elenco avança diante do olhar do publico.
Com este trabalho, procuramos levar ao público um pouco do "viver e pensar cabofriense", onde o mar é pano de fundo, mas também é fonte inspiradora da nossa narrativa existencial. Pelo viés da narrativa cênico-musical, o espetáculo vai afirmando seu caldo cultural único, portador de nossa identidade afro-ameríndia e, portanto, universal.


"CORAÇÃO DO MAR"
FICHA TÉCNICA

Direção: Jiddu Saldanha
Dramaturgia: O Grupo
Direção Musical - Kéren-Hapuk
Preparação corpo-mímica: Jiddu Saldanha
Maquiagem e figurinos - O Grupo
Produção: O Grupo
Fotografia: Manuela Paiva Ellon
Design Gráfico - Laboratório Criativo

ELENCO: 



Celso Guimarães Júnior, Kéren-Hapuk, Nathally Amariá, Jean Monteiro, Sarah Fortes, Danilo Tavares

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Teatro Poesia: Um caminho aberto para quem faz teatro!

Uma forma de fazer teatral onde a
dramaturgia é construída
a partir da voz do poeta.
Um flerte com a literatura.
..



Bruno Peixoto - Prêmio de melhor ator no Festival Carioca Camarim das Artes IV, 
em 2010.
Em 2008 dirigi o ator Bruno Peixoto, na cena "O Cão sem Plumas" um poema de João Cabral de Melo Neto, que conta um pouco a vida ao longo da paisagem do Rio Capibaribe. Anterior a Morte e Vida Severina, o "O Cão sem Plumas" é um poema épico e de profunda inspiração. Ver a evolução do ator Bruno Peixoto, construindo seu personagem narrativo, durante a emissão da fala poética do texto, foi uma viagem extremamente prazerosa. A peça foi recebida muito bem em Cabo Frio, tivemos público razoável, mas o público saía com uma pergunta no ar: "Isso é Teatro"?
Em 2009 criamos o espetáculo "Jornada de Paz, Tempo de Guerra", com as atrizes Louise Marrie, Bárbara Morais e o ator Bruno Peixoto. Dessa vez, fizemos uma conjunto de poemas que incluía "Cidade à Contraluz", poema de minha autoria e de Herbert Emanuel, "O Homem as Viagens", de Carlos Drummond de Andrade; "Canto ao Homem do Povo - Charles Chaplin", também de Drummond, finalizando com o poema "Vem por Aqui" do poeta português José Régio, além de "Os Lusíadas", de Camões, feito em forma de rap, com direção musical de Ivan Tavares. Foi uma experiência incrível fazer Teatro Poesia com o primeiro grupo de teatro que fiz parte, de fato, em Cabo Frio.

Grupo "Operários do Teatro Brasileiro" - transformaram o poema
"Estatutos do Homem" de Thiago de Mello, numa cena de teatro poesia
que arrancou fortes aplausos do público.
Mas lembro que no final da temporada as atrizes do grupo me questionaram, perguntando quando, o grupo faria "teatro de verdade". A frase caiu como uma paulada na minha cabeça, percebi que a tradição do teatro poesia estava quebrada ou, talvez, nunca tivesse existido em Cabo Frio.
Em 2016, resolvi retomar a reflexão sobre o Teatro Poesia mas, para isso, foi necessário criar um evento inteiro voltado só para o gênero. Aproveitando uma brecha na agenda do teatro; eu e Nathally Amariá, arregaçamos as mangas para criar um evento totalmente voltado para o diálogo com a literatura e que tivesse como ponto de partida, o Teatro. Com isso, conseguimos trazer para o bojo do acontecimento, alguns artistas remanescentes do Fest Solos, além de estudantes de teatro. Lançamos um edital e conseguimos algumas inscrições. 


Henrique Selani, escreveu e co-dirigiu a cena
"O Poeta e Suas Máscaras", pelo grupo de arteterapia
"Casulo Artes".
Sabendo que seria um sucesso, fizemos convites para outros artistas, lançando-lhes o desafio de montar algo teatral que tivesse como fundo um poema de algum poeta consagrado, ou não. A ideia pegou e as pessoas começaram a preparar suas cenas e tivemos a alegria de vê-las concretizadas no POESIA DE CENA - 2016. Tão logo o evento encerrou, percebemos pudemos rever algumas dessas cenas no FESQUIFF IV, um festival estudantil organizado pelo IFF - Instituto Federal Fluminense, de Campos, com edição extensa a todas as unidades em todo o IFF'S do Rio de Janeiro, com edição em Cabo Frio, assim, pudemos rever as cenas "Vidas em Pétalas" parceria entre os grupos "OTB" e "Sem Foco". Também pudemos contemplar a repetição da cena "O Poeta e Suas Máscaras" do grupo arte terapêutica "Casulo Teatral".


Recebida com entusiasmo, no FESQUIF IV, "Ádeus Mundo" contou com um 
time de primeira, formado por Celso Guimarães, Sarah Fortes, Kalil Zarif, 
fotografados por Manuela Ellon e dirigidos por Kéren-Hapuk.
Recentemente, no OFICENA - Curso Livre de Teatro, algumas cenas criadas pelos alunos para nosso festival de cenas curtas, foram compostas de textos poéticos, dois que se destacaram foram "Vida em Pétalas" de Gabriela Caetano e "Ádeus Mundo" de Chrystian Gatti. O primeiro já teve diversas apresentações em espaços variados e eventos diferentes, o último, uma belíssima cena de Teatro Poesia, dirigida por Kéren-Hapuk, atriz e diretora da nova geração, que traz sua melancolia irreverente como marca registrada de sua estética.
No IFF-Instituto Federal Fluminense, de Cabo Frio, o primeiro experimento estético teatral do grupo IFFCENA, da própria instituição, é a cena de Teatro Poesia "Estação Poesia", que junta poemas de diversos poetas brasileiros, antigos e contemporâneos.


"Estação Poesia" - Momento de força e energia criativa envolvendo 
adolescentes que descobrem, na poesia, um pouco de resposta para suas 
próprias perguntas.
O resultado foi promover a leitura perante os adolescentes que fazem parte do grupo, ampliando seu contato com a poesia de qualidade gerada na terra-brasílis. Conhecimento nunca é demais, e a poesia, quando vira tema ou assunto de algo, faz surgir mais poesia. A divulgação da escrita vem a reboque da construção de cenas com poesia e isso faz gerar uma demanda de novos leitores, além de promover um recondicionamento crítico para se pensar melhor as fazes da própria vida.


*** 
Desde as incursões do grupo "Bicho de Porco", em 2008 até agora, 2016, já se passaram 8 anos e novas sementes de Teatro Poesia foram lançados na cidade de Cabo Frio, agora, a cidade conta com um evento específico para tratar deste assunto de forma a potencializar e ampliar para a pesquisa teatral essa forma de expressão tão bela e profunda. Com isso, uma espécie de retomada de uma linguagem que estimula o ator novo a ler mais e conhecer profundamente sua própria literatura, promovendo o texto poético, amplia-se a participação do conhecimento e da metáfora como prática criativa, além do exercício constante com a palavra. O teatro poesia é uma forma profunda de levar a arte teatral a patamares onde só a imaginação definirá o limite.                                                                   

Jiddu Saldanha - Professor de teatro e Blogueiro.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

FESQUIFF IV: Um festival cheio de oportunidades, com um forte olhar institucional.

Matheus Neves, hoje, estuda teatro na UNIRIO.
Viver o FESQUIFF foi uma experiência única. Dá pra sentir quando um evento tem o peso e a responsabilidade institucional que o teatro tanto precisa. Com o afago de uma organização federal tão potente como o Instituto Federal Fluminense, IFF, Deu pra sentir a força que o teatro tem, como ferramenta educadora, sobretudo quando mobiliza a experiência de organizações como AYAMÔ, NÓS DO TEATRO e OFICENA; Juntos, Campos e Cabo Frio se uniram para mostrar a capacidade que a arte tem, de mobilizar jovens e concentrar possibilidades e sonhos.

Matheus Neves, representa a síntese
de tudo o que deu certo no teatro de 
Cabo Frio nos últimos 4 anos. 
Formado em Petróleo e Gás pelo
 IFF de Cabo Frio. Fez, paralelamente
as aulas livres do OFICENA - Curso Livre
de Teatro do Teatro Municipal. Foi 
integrante dedicado de um grupo de teatro
durante 2 anos e culminou com a aprovação
para estudar teatro na UNIRIO, talvez, 
a mais importante escola de teatro do Brasil.



Se por um lado são "tempos difíceis" para a cultura e a vida do país em geral, o importante é resistir e resistir com arte é uma forma transformadora, já que, ao mesmo tempo que dá vasão à criação e ao princípio de amor humano que está ligado ao fazer artístico, por outro lado, desperta consciência crítica e amplia a visão sobre o futuro. Com uma área de arejamento da alma, o indivíduo passa a construir não apenas uma visão sobre si, mas também, entender o imenso universo de diferenças que afeta a todos. Ganha a instituição, ganham os parceiros e, sobretudo, a educação cumpre seu real papel, de promover junto com o compromisso, a felicidade humana.
Ver tantos jovens se organizando para transformar a festa do IFF numa energia que uniu todo mundo, foi, sem dúvida, um grande alento para quem curte e gosta de teatro, e que acredita na transformação que o teatro traz para a vida dos jovens. Foram 3 dias de muita emoção, descoberta, e entrega artística. Uma força voluntária que fez levantar a poeira e trouxe o sabor do teatro para o universo estudantil de forma eclética e saudável. Não faltou criatividade. Grupos independentes como o TCC - Teatro Cabofriense de Comédia, Operários do Teatro Brasileiro e Imaginário, e grupos de escola como o IFFCENA, fizeram a festa acontecer, ainda, com a presença de um grupo forte e profissional, como o NÓS DO TEATRO.
Com diversas instituições representadas e o Teatro Municipal de Cabo Frio, resistindo à fúria avassaladora da crise econômica que assola Cabo Frio, tivemos, enfim, uma ilha de tranquilidade por onde deixar escoar um pouco daquilo que foi plantado com amor, engenho e arte, através do OFICENA, que teve a ajuda e participação de tantos mestres que pelo curso passaram, destacando Italo Luiz Moreira, Yuri Vasconcellos, Jiddu Saldanha e presença da secretária que nunca deixou a peteca cair, Nathally Amariá.

SARAH MARQUES
Atriz símbolo da resistência cultural do FESQUIFF

Sarah Marques: Atriz cega, deu um show e demonstrou grande domínio de cena,
numa dramaturgia complexa e profunda, membro do grupo "Nós do Teatro" foi
dirigida por Cátia Macabu.
A atriz Sarah Marques comoveu a platéia, no papel de Silvia, uma esposa irônica e cheia de estratégias e argumentos para lidar com Mario, um marido apático e que parece não gostar da esposa, ao longo dos diálogos, entre armadilhas psicológicas e muito cinismo, o casal vai revelando o grande segredo de sua relação infeliz. Escrita por Pedro Block na década de 50, do século passado, a peça foi mais representada do que as peças de Nelson Rodrigues que, se declarava fã incondicional e, num certo sentido, se inspirou em "Os Inimigos não Mandam Flores" para escrever algumas de suas peças.
Sarah, uma atriz cega, de apenas 24 anos, com a força de sua personagem, comoveu a platéia principalmente, por se mover como pluma pelo palco, tateando de forma sutil os objetos ela conseguiu fazer com que o público enxergasse um outro olhar sobre a famosa personagem de Pedro Block, trazendo não apenas sua beleza de expressão, a delicadeza de sua interpretação mas, sobretudo a coragem de sua atuação. Sem dúvida, de todas as montagens que já vi, desta peça, guardarei esta no meu coração, por ter visto no palco uma "Silvia" única. Foi a primeira vez que vi a personagem sendo interpretada por uma atriz cega que, aliás, estava muito bem dirigida por Cátia Macabu.

Teatro lotado na ultima noite, o público soube mostrar seu amor aos jovens
que foram contemplados com uma festa teatral para que eles pudessem viver
seu protagonismo.
Outro grande trunfo deste festival foi, sem dúvida, sua natureza não competitiva e o cuidado de garantir um troféu para todos os grupos participantes. Sem gerar competição, sem construir um caminho onde uns se sobrepõe sobre os outros, o festival conseguiu, também, fazer um reconhecimento ao trabalho dos jovens que se empenharam em fazer do teatro um momento de luz para enfrentar os moinhos de ventos da vida e, sem dúvida, todos fizeram por merecer. Os grupos de teatro locais e de outras cidades do interior do estado do Rio de Janeiro, estiveram profundamente conectados com uma forte energia de amor e reconhecimento.

IFFCENA 

O Nascimento de um conceito de grupo de teatro para estudantes de uma escola com grade curricular puxada, ganhou, definitivamente, seu espaço. Com uma estréia incrível e a participação apaixonada e dedicada da primeira geração do grupo. Pioneiros, responsáveis por pavimentar o caminho do teatro, num curso técnico de alta performance educacional.
Inspirados pela energia vulcânica dos professores Henrique Selani e Bruno Pereira, o IFFCENA trabalhou um ano e meio para chegar ao formato de seu primeiro espetáculo: "Estação Poesia" com dramaturgia e direção de Jiddu Saldanha, o grupo partiu dos poemas do professor Henrique Selani que também foi o articulador e diretor assistente, até chegar ao resultado que foi ovacionado no Teatro Municipal por um platéia lotada e efusiva. O IFFCENA chegou a ter mais de 30 participantes, mas, durante um ano e meio de trabalho, a realidade educativa da escola, o estresse dos alunos, tendo que fazer um esforço extra para praticar teatro, dentro de um contexto que os favorece muito mais para enfrentar pesadas provas preparatórias, acabou estreando com 8 participantes, os pequenos "Heróis da Resistência" que levaram o charme do teatro como atividade pioneira o IFF- Cabo Frio, o resto é história.

Com uma forte tradição no fazer teatral, o FESQUIF IV contou com a eficiência e experiência de quem já faz teatro de forma organizada ha muito tempo. Todos ganharam e Cabo Frio mostrou que tem capacidade para garantir que o teatro local
tenha um glorioso futuro.
PROMESSAS E POSSIBILIDADES PARA O TEATRO LOCAL RESPIRAR.

O teatro de Cabo Frio, precisando urgentemente de socorro e de uma respiradouro para se afirmar, este ano de 2016 enfrentou de tudo, principalmente uma crise econômica com forte impacto político que resultou no não pagamento de professores e desmantelamento de toda a infraestrutura do Teatro Municipal de Cabo Frio que, para funcionar, conta com a ocupação dos alunos do OFICENA e alguns funcionários que ainda resistem, apesar da falta de pagamento.
No entanto, o IFF, acena com a possibilidade de novas parcerias e de uma presença mais marcante no teatro local, através de ações que podem contribuir, e muito, para que a atividade não só, cresça, como também, ganhe possibilidade e energias suficiente para seguir sua tradição que já tão forte na cidade de Cabo Frio. Seja como for, a sensação é que, apesar de tantas dificuldades e falta de apoio, uma luz começa a acender no fim do túnel, trazendo uma atmosfera de grandes esperanças para a categoria artística local da cidade de Cabo Frio.

Jiddu Saldanha - Professor de Teatro e Blogueiro.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

TCC - Teatro Cabofriense de Comédia. Início de uma nova história. Os festivais competitivos...

Focado na inquietação, pesquisa e construção de uma estética diversificada, o TCC - Teatro Cabofriense de Comédia, vai ganhando, cada vez mais, força e energia para abrir caminho nos festivais de teatro pelo país.

Fiel à sua história ainda no começo, o grupo traça alguns parâmetros para seu caminho. O esptáculo "Coração do Mar",
vai sendo construído e levado para espaços não convencionais e teatros de Cabo Frio. Como parte da conquista de um
espaço próprio na linguagem e no desafio artístico.
O TCC - Teatro Cabofriense de Comédia, completou, em agosto de 2016 seus dois anos de existência, com um repertório louvável, digno das companhias de repertório profissional no melhor estilo anos 80. Com uma juventude que descobre, a cada nova aventura, o real sentido de um grupo de teatro, vai enfrentando à sua maneira, as próprias crises, e descobre o poder pessoal de seus participantes, ao adquirir experiência para lidar com as armadilhas do ego.
Nada no grupo veo de graça, tudo demanda esforço, dedicação, diálogo e espírito de equipe. Cada participante, traz na essência do seu coração, a força que um ator precisa, para seguir adiante, numa sociedade onde teatro, mais do que mercadoria, é uma forma de habitar o mundo, tonando-o um espaço para nossos delírios e invenções. 
Dois anos depois, a capilaridade artística e um mergulho na colonização 
do próprio território, conhecer o que se faz onde se vive é um começo 
inevitável.
Assim, o grupo vive suas metamorfoses, num mundo onde tudo é relativo e a própria existência já não é mais ditada pelo "olhar único" e sim pelo recorte de quem está, onde está, por sua própria escolha e, também, porque se dispôs para caminhar e respirar junto num universo de confiança, amor e responsabilidade! Ser responsável, não significa seguir uma agenda sugerida por outrem, e sim, buscar, dentro de si, o contato necessário para tornar real algo que é próprio da pessoa, de seu interesse, de sua busca pessoal mais profunda, de sua essência.
Surgido das inquietações do OFICENA, amparado pela estrutura mapeadora e perceptiva do FESQ, o TCC - Teatro Cabofriense de Comédia, de forma simples e direta vem descobrindo seu fazer, fazendo mas também, convivendo com gente de teatro. Resistindo, sobretudo, à tentação de deixar seu sonho se diluir pelo caminho, mantendo, contudo sua forma de fazer, seu jeito de ser, sua forma de descobrir. A cada passo, aprender é preciso e a cada aprendizado, é necessário investigar e mergulhar, sobretudo experimentar.
Ampliando sua linguagem, o grupo mantém sua opção por
construir repertório. A peça "Coração do Mar" é um exercício
de fazer musical e descobertas coreográficas.
Depois de inaugurar seu trabalho no Festival de Esquetes de Cabo Frio, em 2014, com a peça "Ditadura" o grupo seguiu enfrente para colonizar sua própria cidade mãe, matriz; Cabo Frio. Enfrentar praças lotadas, vazias, em dias de sol e de chuva, descobrir sua linguagem, se locomover pelos guetos, tendo como bússola principal, a vontade de fazer, a sensibilidade e, claro, a disposição para ensaiar e se redescobrir a cada instante. Foi assim a grande batalha para entender o fazer teatral, de uma perspectiva tanto de quem faz, como de quem estuda.
Depois de participar do FREE, de Macaé, sua primeira participação num festival competitivo, o grupo vai se estendendo e se preparar para abraçar, também, festivais com este modelo. O que nos leva a uma nova descoberta do como fazer, sem perder a essência de fazer com e por amor. Competir é sempre algo estranho, pressupõe que se é melhor, que o outro é melhor. A palavra melhor, na maioria das vezes, responde muito mais a uma pergunta voltada para o mercado, como norteador de um fazer. Em modelos não competitivos, o ator enfrenta a si mesmo, sua própria vontade, sua essência é o que o move. Numa mostra premiada, o ator mantém sua essência, mas precisa enfrentar a responsabilidade de lidar com seu ego, confrontado com o ego do outro.
Próximo a fechar 2016, o TCC, continua sua luta para se entender, se descobrir e se inventar, num mundo de grandes transformações. Até aqui, a luta continua e a força do coração pede passagem entre as novas gerações, que vão descobrindo e desenhando sua própria maneira de ver, fazer, criar, existir.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

VEM AÍ - A FARSA DO ADVOGADO PTHELIN - No Teatro Municipal de São Pedro da Aldeia

O Novo trabalho da Cia. "Andança - Por um Teatro Livre", traz, como todo trabalho do diretor Italo Luiz Moreira, a marca de uma encenação completamente autoral. Italo faz questão de construir as cenas de forma a comunicar-se com seu mais profundo delírio. O jogo das personagens, numa ciranda que envolve o publico e ao mesmo tempo, cria simulacros que se trasnformam.  
Como sempre, Italo investe toda sua energia para formar um elenco sem pressa. A montagem funciona como oportunidade de desenvolvimento e crescimento para atores novos, desde que, sejam persistentes. Italo traz um arsenal de trabalhos de grande sucesso em Cabo Frio, nos ultimos 4 anos: "O Auto da Compadecida" de Ariano Suassuna, "O Inspetor Geral" de Nikolay Gogol e "Atlantic City" de sua própria autoria. Todos realizados com alunos do OFICENA, além de trabalhos feitos em outras fases do grupo "Andança - Por um Teatro Livre", como "O Círculo do Jogo" e "A Lenda da Senhora Criança Pedrdida", dramaturgia própria.

Para um ator, trabalhar com Italo é sempre uma oportunidade de crescer no
ofício de atuar. Experimentar o palco com um mestre é uma oportunidade
acima de qualquer coisa.
A Farsa do Advogado Pathelin, é um texto surgido por volta de 1460, e que não se tem conhecimento do autor, uma obra, no entanto, muito atual, já que denuncia mazelas, desmandos e a hipocrisia de uma sociedade que bem poderia ser Cabo Frio, por exemplo. Afinal, nada mudou. O mundo cresce, aumenta de população mas continua sempre envolto nos problemas clássicos da existência. As classes sociais se digladiam, na base da "farinha pouca, meu pirão primeiro"! Mas tudo continua igual. 
Quando vi nascer este trabalho, no início de 2016, sabia que seria uma longa viagem, e foi. A peça teve diversos atores rodando pelo elenco, mas alguns ficaram. Destaco aqui, o ator Carlos Antonio de Oliveira e a atriz Dandara Melo, ambos estudantes do OFICENA - Curso Livre de Teatro, do Teatro Municipal de Cabo Frio e que já participaram de diversas montagens do curso ao longos dos últimos anos.
Na mostra de grupos de teatro surgidos do OFICENA, em Abril de 2016, tivemos uma versão experimental da peça e já era um trabalho incrível, tempos depois, com mudanças no elenco, o trabalho foi ganhando profundidade, pesquisa e desenvolvimento, não sem um toque de mistério, pois, o segredo de um trabalho profissional é a alma. De forma sutil, o grupo fez suas pesquisas, encontrou-se em horários alternativos e experimentou alguns palcos e espaços não convencionais. Adquiriu vitalidade, ritmo e desenvoltura, cada vez mais, até encontrar seu coletivo mais dedicado.
A notícia boa é que o trabalho será apresentado no Teatro Municipal de São Pedro da Aldeia, e promete lotar, pois é, sem dúvida, um dos trabalhos mais esperados deste ano.

SERVIÇO:
A Farsa do Advogado Pathelin
Autor: Desconhecido
Diretor: Italo Luiz Moreira
Teatro Municipal de São Pedro da Aldeia
Hora: 20h
Ingressos antecipado R$ 10,00 
Ingressos na hora R$ 20,00


VEJA DETALHES SOBRE A PEÇA

Grupo Andança: Por um teatro Livre

Apresenta:
A Farsa do Advogado Pathelin.



Quando Portugual começou a fazer do Brasil sua colônia ( Sec.XVI), o governo monárquico enviou para o nosso país os jesuítas com intuito de catequizar os índios, trouxeram não só a nova religião para o nosso país, mas várias culturas diferentes que incluía: literatura, cristianismo e o teatro. A primeira forma de teatro que os brasileiros conheceram foi a dos portugueses com um caráter pedagógico baseado naturalmente nas escrituras sagradas. Nesta época, os maiores responsaveis por esses ensinamentos bem como a autoria das primeiras peças teatrais foram os padres Anchieta/ Antonio Vieira que perteciam a Cia de Jesus ORDEM ENCARREGADA DE LEVA O CRISTIANISMO PARA OS PAÍSES COLONIZADOS. Os séculos se passaram e com eles passou-se o périodo de catequização dos índios, da escravidão dos negros, mas a arte teatral foi aprimoranda, valorizada e sobreviveu a todos os conflitos existentes. Este novo momento que vive as artes cênicas no Brasil, principalmente em Cabo Frio nos remete a alguns questionamentos, sobretudo quanto á estilização desta arte milenar. QUE FICA APRISIONADA NOS GRANDES TEATROS/ CENTROS, QUANDO DEVERIAM EXPANDIR PARA PERIFERIAS, RUAS , PRAÇAS PARA PROLIFERAR E AMPLIFICAR. É com este viés que propomos abrir este debate com o nosso espetáculo.

SINOPSE

O espetáculo conta a história de uma farsa preparada pelo advogado decadente Pedro Pathelin, tendo como vítima o próspero comerciante de tecido senhor guilherme.

AUTOR: DESCONHECIDO
DIREÇÃO: ITALO LUIZ MOREIRA
COREOGRAFIA: MARCOS ROGEIRO 
FIGURINO: EZEQUIEL SILVA CASTRO
ILUMINAÇÃO; ITALO LUIZ MOREIRA
MUSICAS: MATHEUS DE CASTRO E ITALO LUIZ MOREIRA
PREPARAÇÃO VOCAL: MARCOS ROGEIRO/ O GRUPO
MAQUIAGEM; WESLEY DE ABREU/ O GRUPO
ELENCO: CARLOS OLIVEIRA 
DANDARA MELO 
HEROLD OLIVER
JOÃO MUNK
JORGE RODRIGUES 
MARIA APARECIDA BATISTA 
MAYRA ZOBRIST
VICTOR OLIVEIRA 



quarta-feira, 26 de outubro de 2016

O Inspetor Geral e O Navio Negreiro, são os dois novos espetáculos do OFICENA - Curso Livre de Teatro.

O Inspetor Geral
de Nikolai Gogol

Cena do Inspetor Geral, turma Infanto-Juvenil, OFICENA
2016. Nova Montagem.
Embora seja uma remontagem modificada, o "Inspetor Geral", de Nikolai Gogol, está sendo levado pela turma infanto-juvenil, do OFICENA - 2016. O texto já fora montado em 2014, com a turma da noite e foi revezando com os estudantes até meados de 2016, chegando a 25 apresentações desde o ano que surgiu. O espetáculo já foi apresentado no Teatro Municipal de Cabo Frio, Faculdade Estácio de Sá, Praça São Benedito, Praça da Cidadania, em Cabo Frio e Teatro Municipal de São Pedro da Aldeia.
"O Inspetor Geral" é um clássico da dramaturgia mundial, escrito pelo ucraniano Nikolai Gogol, que, no entanto, é conhecido como dramaturgo russo, por ter escolhido viver e estudar na Rússia Czarista do século XIX. O autor de "O Capote" e "Diário de um Louco", é prestigiado no meio teatral até hoje. Trazer sua obra para o palco de Cabo Frio, não deixa de ser um fato importante para o desenvolvimento do teatro local.
"O Inspetor Geral" conta a história de uma cidadezinha do interior da Rússia, envolvida fortemente com a corrupção dos políticos e que recebe, em forma de boato, o aviso de que um funcionário do Governo Federal virá fazer uma auditoria na cidade. Para receber, no entanto, o tal inspetor, a cidade precisa construir uma aparência de que funciona normalmente, mas as coisas mudam, quando as máscaras começam a cair. O resultado é uma sucessão de erros e fatos pitorescos que vão deixando a cidade numa saia justa, até o final cheio de surpresas.

SERVIÇO:
Texto: O Inspetor Geral
Autor: Nikolai Gogol
Direção: Italo Luiz Moreira, Yuri Vasconcellos e Jiddu Saldanha
Direção Assistente - Nathally Amariá
Produção: OFICENA - Curso Livre de Teatro
Elenco: Alunos do OFICENA 2016.
Data: 30 de outubro de 2016
Local: Teatro Municipal de Cabo Frio
Hora: Sessão dupla às 17h. e 19h.
Valor do ingresso: R$ 5,00



O Navio Negreiro
de Castro Alves

Cena dirigida por 05 diretores, todos alunos do OFICENA . Um projeto de
autonomia, digno de um grande desafio.
O Navio Negreiro
de Castro Alves
Montagem do OFICENA - Curso Livre de Teatro
turma adulta / noite

Considerado um dos mais importantes poemas escrito em Língua Portuguesa, será a terceira montagem oficial dos estudantes do OFICENA, turma da noite. Dessa vez, com uma grande novidade: A montagem é assinada por 5 diretores-alunos do curso, com supervisão de Yuri Vasconcellos, Nathally Amariá e Jiddu Saldanha.
O texto de Castro Alves permanece atual e traz uma profunda reflexão sobre a condição humana, a partir da histórica luta pelo fim da escravidão no Brasil. Quando foi lançado, em 1869, tornou-se foco de grandes discussões abolicionistas e, sem dúvida, teve seu papel no estímulo à extinção do tráfico de escravos negros no Brasil imperial.
Entendendo o momento em que a exclusão social, somada à falta de oportunidade e completamente sem qualquer esperança de futuro aos jovens, a montagem é um exercício pleno de cidadania, conquistado pelos próprios alunos, que resolveram embarcar numa grande viagem estética para a realização de um poema épico em forma de linguagem teatral.
A montagem de "O Navio Negreiro", também faz parte de um projeto de autonomia dentro do OFICENA, onde a pedagogia é exercida de forma a estimular entre os alunos: O canto, a dança, a discussão e a realização independente de suas criações artísticas teatrais. O processo de montagem desse trabalho, levou os alunos por lugares nunca imaginados, de sua sensibilidade e ampliação de suas próprias ferramentas de realização.

SERVIÇO:
Nome: O NAVIO NEGREIRO
Autor: Castro Alves
Direção: Pedro Carvalho, Mario Sales, Mayra Zobrist Rodríguez, Matheus D'Castro e Jorge Rodrigues.
Supervisão: Yuri Vasconcellos, Nathally Amariá e Jiddu Saldanha
Produção: OFICENA - Curso Livre de Teatro
Data: 29 de outubro de 2016
Local: Teatro Municipal de Cabo Frio
Hora: Sessão dupla às 19h. e 21h.
Valor do ingresso: R$ 5,00

FESQ - Um Olhar Politico.

Arte e política caminham de braços dados, pode até não ser política partidarista, mesmo assim, o artista sempre traz uma visão ampliada sobre questões que envolve cidadania e reflexão. No FESQ 14, não poderia ser diferente.


MACACOS - CIA DO SAL

Clayton Nascimento, além de premiado como melhor ator e melhor esquete
trouxe um discurso contundente denunciando toda a hipocrisia por trás do
racismo vigente no Brasil.
Bastou entrar em cena para que o ator Clayton Nascimento desse uma aula de história sem nenhum pedantismo. Sua destreza e domínio da voz, dramaturgia e geografia de palco, foi suficiente para mostrar que está surgindo um grande ator do teatro brasileiro. Sua energia combativa, sua força de expressão, fez com que ele construísse uma profunda empatia com o público que ficou extasiado com seu trabalho incrível.
"MACACOS" é de arrepiar a alma, trouxe reflexões aprofundas sobre nosso cômodo respirar consumista, nos jogando num abismo de reflexões. Tendo o racismo como foco principal, a cena é uma provocação do começo ao fim. O público permaneceu calado e apreensivo e cada um de seus movimentos em cena e, como numa boa artilha de Bertold Brecht, o momento em que ele convoca a platéia a cantar e refletir sobre a letra da música sobra a proclamação da república, aquele famigerado hino que diz "liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós". Clayton desconstrói a hipocrisia expressa até mesmo num hinos que se propõe ser representativo de uma nação inteira, construída apenas para uma minoria em detrimento do sofrimento da grande maioria. Isto é o Brasil que Clayton retratou com profundidade e uma acurada técnica dramatúrgica e de ator.

Last Dance - Um tapa na cara dos "relacionamentos
abusivos", uma cena belíssima, com profunda
poesia no melhor estilo Pina Bauch.
LAST DANCE 

Outra cena que chamou muito a atenção, causando, inclusive, sentimentos de participação intensa do público, foi o trabalho Last Dance, com um elenco afinadíssimo, e bem compenetrado. Por trás de uma temática politicamente provocativa, a performance Last Dance investiu pesado no Teatro Dança. Uma dramaturgia que fala de relacionamento abusivo traz, na proposta de direção a junção de técnicas muito bem articuladas nas mãos, pés e voz dos artistas: Henrique Cordoval e Lorena Tófani.
Com uma energia vigorosa, engajamento corporal, fluidez de movimentos, o trabalho levou o público por caminhos de experimentação. Uma abordagem quase lírica para um tema tão impactante mexeu com todos, até mesmo no debate onde até mesmo eu, comovido com tudo o que ouvi, senti vontade de investigar meu próprio machismo. O debate, foi comovente, delicado e profundo, nos fez pensar, refletir e investigar a própria questão pessoal no bojo desse acontecimento artístico tão singular que é o FESQ de Cabo Frio.
Lorena e Henrique, foram pródigos em mostrar que conhecem bem as técnicas que praticam, sua cena está bem construída e tem grande potencial.
Segundo Henrique, a investigação e a proposta cênica de seu trabalho, mostra também uma tendência de alguns grupos teatrais de Belo Horizonte, não só na mescla de linguagem como também nas temáticas cada vez mais mergulhadas em discussões e reflexões referente ao tempo que vivemos. Uma nova tendência, talvez, do teatro engajado. Cada vez indo para uma discussão onde a estética e a ética confrontam o panfletismo, abrindo caminho para um discurso que atinja toda a sociedade, independentemente de quaisquer ideologia.

A PASTORA DO LIXÃO 

foto: Mariana Ricci. A atriz Jéssika Menkel, que já havia encantado em 2015
com uma excelente caracterização na peça "Meu Nome é Ernesto", este ano
veio com o solo "A Pastora do Lixão", uma cena inspirada no
monumental filme "ESTAMIRA" de Marcos Prado.
Os primeiros minutos de cena já oferece um panorama inspirado no monumental filme "Estamira" de Marcos Prado. O grande encanto, para os fãs do filme, é ver Jéssika dar vida a uma personagem que existiu, de fato, e que tem uma legião de fãs, desde que o filme foi lançado, em 2004. O gancho político da peça é, justamente, apresentar um ser social, com uma fé complexa e uma abordagem da vida humana a partir de sua condição social. A vida num lixão, essa praga que nunca foi resolvida no Brasil e que, traz sua própria ecologia. No entorno do lixão, existe uma legião de seres humanos, com suas crenças, costumes e economia. Um lugar que mostra claramente o submundo da civilização, colonizada, no caso do Brasil, por uma visão fortemente influenciada pela mídia e os falsos profetas de plantão, vendendo todo tipo de opressão através de sua "fórmula de eternidade".
A pesquisa de Jéssika, no entanto, vai além e traz a marca de sua interpretação impecável, tanto que arrebatou o  prêmio de melhor atriz no Fesq XIV - A Resistência, de 2016. Em 2015, Jéssika interpretou uma velhinha de 80 anos numa belíssima história chamada "Meu Nome é Ernesto" e que também lhe valeu o prêmio de melhor atriz. O que chama atenção no seu trabalho, são suas caracterizações, valorizando a maquiagem como elemento fundamental da cena. O domínio de técnicas clássicas e contemporâneas, são, também, evidentes em sua abordagem artística, no entanto,
O teatro, quando feito de forma abrangente, pegando tradições fortes como o uso da caracterização e da maquiagem, tem uma força e traz ao público uma visão de acabamento e cuidado com um trabalho, em toda sua extensão. Dominar o fazer artístico é um projeto de vida inteira, ainda mais quando se vai fundo em aspectos que ainda são bastante restringidos no Brasil, apesar de termos um forte histórico no fazer teatral enquanto exposição de habilidades outras, que não só a de atuar.


"O Sexto Céu de Júpiter" a dramaturgia de Matheus Macena, e a competência
da atriz Priscila Verginaud / Foto: Mariana Ricci
O SEXTO CÉU DE JÚPITER  Priscila Verginaud

Uma atriz com performance precisa e impactante, Priscila investiu sua energia para criar uma personagem quase mítica, a prostituta que se transfigura na imagem da mulher atingida em cheio pelo preconceito da sociedade. O texto, construído com habilidade, por Matheus Macena,  assunto que vamos abordar com mais detalhe, depois, quando vamos falar sobre dramaturgia e os dramaturgos presentes no FESQ 2014.
Como a própria foto da Mariana Ricci, já diz, Priscila utiliza a riqueza de sua técnica corporal e o impacto de seu corpo forte em cena, para dar vida e oferecer metáforas e muita estética para a figura de sua personagem. Seu trabalho, que também falou do machismo na sociedade, foi comovente, e jogou todo o público na reflexão, não sem colocar de forma direta a interlocução feminina, de forma mais específica, criando uma grande empatia com as mulheres da platéia. Priscila é uma atriz de combate, seu corpo em cena traz vigor e ao mesmo tempo uma sensibilidade que deu força e energia estética ao trabalho. O resultado foi o encantamento e que nos fez ver em seu trabalho algo para se pensar, de verdade. O debate nos jogou no centro de uma proposta de impacto, um teatro até certo ponto engajado, sem partidarismo, ponto para a busca de fortes transformações sociais na vida da mulher.

Aguarde os próximos artigos onde irei abordar o uso da luz e o mergulho no Claro-Escuro, trabalhos que ficaram evidentes nas cenas "Procura-se Profundidade" e "Panchito González".

Jiddu Saldanha - Blogueiro





sábado, 17 de setembro de 2016

Os jovens e o Teatro de Cabo Frio - O que fazer?

Findando sua etapa de formação livre de jovens para o Teatro, em Cabo Frio, o OFICENA como tudo o que respira numa cidade de interior, prepara-se para uma grande dúvida. Como ficará, a partir do ano que vem, dentro de outra conjuntura política, a vida teatral da cidade?
Essa é uma pergunta que todos os jovens fazem e que não cabe a nós, responder, senão, tecer uma breve reflexão sobre as novas gerações do teatro local e sua inserção na ecologia artística atual da cidade.


Teatro Quintal - Um novo point na cidade, com programação sequenciada e muitos projetos de aperfeiçoamento para
atores de Cabo Frio e Região dos Lagos.
Durante o período que foi de 2005 a 2012, o teatro Cabofriense viveu uma grande agonia. Com jovens recém formados nos cursos livres da cidade, uma profunda divisão política jogou os principais realizadores artísticos em em lados opostos da política autofágica local. Naturalmente e sem se entenderem, começou um longo período de devoração que culminou com o teatro vazio e algumas programações vindas de fora. O FESQ - Festival de Esquetes ainda conseguiu absorver até 2007 uma forte energia criativa do teatro local, porém, com a falta de uma política mais focada no fazer teatral e a demolição do Festival Estudantil, Cabo Frio acabou perdendo seu entusiasmo e a prática artística desse segmento foi minguando. O FESQ passou a trazer poucos grupos de Cabo Frio para sua teia competitiva mantendo a robustez da programação e premiação para os grupos vindos de fora, entretanto, e graças a este grande evento, o entusiasmo pelo teatro sempre se manteve, ainda que aos trancos e barrancos.
Mas a cidade nunca parou, os grupos consolidados como Creche na Coxia e Sorriso Feliz, mantiveram suas portas abertas, neste mesmo período, a TRIBAL também passou a atuar no seguimento de danças e cultura popular, trazendo para a rua aquilo que o historiador Ricardo do Carmo, chamou, no filme de Lucas Müller, "O Rei do Sagrado", de "Teatro dos Acontecimentos". Foi em 2011 que a TRIBAL montou o "Auto do Trabalhador" de João Siqueira e levou o trabalho até 2013, com diversas apresentações num caminhão palco. A Cidade manteve, também, a fabulosa encenação anual da Paixão de Cristo, que sempre levou a população local para ver o grande espetáculo, patrocinada pela igreja católica. 
Os fatos ligados ao teatro apontam para o trabalho de resistência de alguns nomes da cidade como Cezar Valentin, Italo Luiz Moreira, Frederico Araújo, Guilherme Guaral, Anderson Macleyves, Bruno Peixoto, Vivi Medina, Fabio de Freitas, Marcelo Tosta e Rodrigo Sena, esses dois últimos de São Pedro da Aldeia mas com uma atividade artística ligada a Cabo Frio. Nesse período o grupo Creche na Coxia, núcleo Silvana Lima, iniciou uma grande reforma em sua casa/sede que se tornou, hoje, o Teatro Quintal e que antes fora chamado de Espaço Garagem.
Em 2013, José Facury, então secretário da cultura de Cabo Frio, junto com o recém empossado diretor do Teatro Municipal de Cabo Frio, Yuri Vasconcellos e o diretor teatral Ítalo Luiz Moreira, se juntam para retomar o curso de teatro do teatro municipal de Cabo Frio, em seguida, fui convidado para integrar a equipe e criamos um conceito que passamos a chamar de OFICENA. E foi a partir da refundação do curso de teatro e sua nomeação, que passou-se a viver um grande boom do teatro local, com a reconstrução de alguns parâmetros que iriam, nos próximo anos, definir alguns caminhos para vida teatral da cidade.

Quatro anos depois, a turma Ifanto-Juvenil entra no âmbito das grandes dramaturgias do OFICENA, montando uma nova
concepção de "O Inspetor Geral", espetáculo que faz parte do repertório do curso.
Quatro anos depois

Quatro anos depois da retomada do teatro no Teatro Municipal, uma nova geração, passou por uma imersão na vida teatral da cidade. Os grandes realizadores da cidade, recuperaram seu fôlego e começaram a oferecer diversas oportunidades, na verdade, muitos cursos surgiram a partir de 2010 e 2011, mas ganharam revitalização a partir da reedição do Festival Estudantil, principalmente o de 2014, que agregou uma primeira geração do OFICENA e trouxe cursos de peso como a LD e o Ensina Encena, neste período, o colégio Miguel Couto, retomou sua agressividade teatral, agregando novos artistas em seu festival interno que se entrecruzou com a turma do OFICENA. O grupo Creche na Coxia, fez uma leitura rápida da situação e começou atuar com mais força, na militância do teatro local. 
Eu e o professor Italo passamos a pensar, de um ponto de vista bem prático uma ação de impacto no OFICENA, de um lado, Yuri fazendo contatos na cidade para inserir o curso, criando a Mostra de Escolas de Teatro com grande sucesso e participação de todos os cursos livres da cidade. Também definiu-se o papel do OFICENA no festival estudantil e posteriormente, a partir de 2014, no FESQ. A criação de espetáculos como "O Auto da Compadecida", 2013 e "O Inspetor Geral", 2014, deu fôlego e preparou os estudantes para absorver uma avalanche de novidades que começou a surgir, tornando o curso uma espécie de "movimento cultural na cidade". Desde posto de troca de livros, varal artístico, cenas curtas, criação de novos grupos de teatro, festivais internos e turbinagem de público nos eventos locais, o OFICENA passou a fazer parte da rotina artística de Cabo Frio.

Rupturas e novas descobertas

Yuri Quintanilha - Cada vez mais experiente, ator é conhecido pela sua
pegada bem humorada e dedicação ao seu grupo teatral "Operários do Teatro".
Longe de estar desgastado, o modelo de ação e trabalho do OFICENA se desdobra para novas possibilidades, em 2016, Yuri Vasconcellos decide separar os alunos mais antigos formando uma grupo de estudos para aprofundar outras formas de teatro, depois de ter trabalhado aproximadamente 3 meses com esses estudantes, os mesmos começaram a se interessar pela oficina de montagem do Teatro Quintal, a primeira turma absorveu um grupo de alunos já bastante presentes no curso. A nova turma, no entanto, dividiu uma parte dos alunos velhos e novos do OFICENA, ao nosso ver, algo bem saudável, ampliando a oferta de estudos e possibilitando aos estudantes fazerem escolhas que vão além dos cursos já tradicionais na cidade, o resultado é uma ampliação de oferta de oficinas e consolidação do trabalho dos novos grupos de teatro, novas alianças e aqueles que até então foram alunos, agora, passam, também a ser realizadores e formadores de opinião dentro do fazer artístico da cidade.
Com a ativação do Teatro Quintal, novos professores de teatro surgem na cidade, com filosofias próprias, cada um de acordo com suas tradições. Dois nomes que vale a pena citar é Dio Cavalcanti e Vivi Medina, que, juntos com Silvana Lima, Matheus Lima e Ivan Tavares, formam um timaço de criação e influência artística para as novas gerações, e, com isso, pode-se dizer que gente que já estava um pouco afastada do teatro, voltaram a exercer essa prática, destaque para a atriz Jane Lacerda Lacerda, que já é possível ver em alguns cursos livres pela cidade. 
Enquanto isso, no Espaço Usina 4, Tânia Arrabal começa a entrar com seus cursos livres, na área de teatro de máscaras e boneco, além de confecção de adereços com oficinas de máscaras, papietagem, etc... também chega a notícia de que o núcleo Tânia Arrabal do Creche na Coxia, se junta a Yuri Vasconcellos e Anna Luiza Barbosa, para a criação de um novo espetáculo de teatro de bonecos. Vem coisa boa por aí.

Medos e Frustrações

Jovens que optaram por seguir carreira, ainda que dividindo seu tempo entre faculdade, emprego e tempo para se dedicar a seus grupos, estão descobrindo a imensa dificuldade que um artista enfrenta para se tornar um profissional de fato. Também parecem, alguns, bem decepcionados com a falta de apoio oficial e da iniciativa privada, para levar seus projetos adiante. Tudo isso já era algo apontado por nós, professores e diretores teatrais, desde que esses jovens nos procuraram,em 2013 e 2014. Dosar a vida criativa e artística com a expectativa de uma sociedade voraz e focada apenas na economia de finanças e bens materiais, atinge o coração do jovem, em cheio. Muitos não desejam dinheiro, mas vêem no teatro uma forma de dar um significado mais lúdico a suas vidas, além de poder trocar energias com sua geração, podendo se aproximar mais do fazer artístico e das relações fundadas, principalmente, num tipo de qualidade de vida onde a arte é o único meio de tornar a vida possível.

Movimentação líquida pelo universo da cultura local.

Celso Guimarães e sua grande empatia para lidar com grandes públicos. No Cine Mosquito, tornou-se referência de sua
geração, apresentando o cinema nacional e local além de fazer ótima animação cultural durante o sarau do mosquito.
Desde que iniciou sua atividade, em 2013, o OFICENA foi fazendo surgir uma geração que passou a se mover de forma líquida, pela vida cultural da cidade. Alguns jovens foram pra noite, dedicar sua vida à música ou prestigiar o mundo da música, alguns descambaram pelo mundo da palhaçaria e do circo e outros passaram a se encontrar em seus próprios grupos. Jovens como Guilherme Carvalho e Yuri Quintanilha, debandaram para a criação de seu próprio espaço artístico com o grupo "Operários do Teatro", que investe numa identidade própria. Já a jovem Kéren-Hapuk, hoje, dirige musicalmente e cada vez mais o TCC - Teatro Cabofriense de Comédia, além de começar a tomar iniciativa e direção ao caminho da performance que tanto lhe apraz. 
A jovem Nathally Amariá, é um exemplo de quem quer realmente tornar a atividade artística como uma possível fonte de profissionalismo. Desde que o OFICENA surgiu, em 2013, ela passou a atuar com auxiliar de produção e depois produção propriamente dita, lidando diretamente com a economia do fazer artístico e participando de planejamentos e propondo alguns caminhos. A partir de 2015 passou a fazer faculdade de Artes Visuais e deu uma cara nova à sua atividade artística ao criar o Varal do Beijo, que passou a fazer parte de eventos do OFICENA, Fest Solos, Cine Mosquito e NUDRA - Núcleo Livre de Dramaturgia.
O Movimento artístico do teatro de Cabo Frio, chamou a atenção de uma jovem designer, Manuela Ellon que passou a fazer parte de um grupo de teatro, com o intuito de dar uma cara visual ao TCC - Teatro Cabofriense de Comédia; hoje, Manu, como carinhosamente a chamamos, deu uma cara visual para diversos projetos: Cine Mosquito, Cidade de Palhaços e Fest Solos são alguns deles, trazendo para o teatro local, suas técnicas de abordagem visual, importantes para garantir marcas e descobertas no universo do teatro.
Com a fusão de novas participações e acontecimentos no meio artístico, o teatro de Cabo Frio se prepara para enfrentar o futuro incerto das mudanças políticas, agora é torcer para que todas as energias concentradas num trabalho focado e com continuidade nos últimos 4 anos, siga dando "frutos saborosos" para a nossa cidade.