Grupo
Casa dos Azulejos – São Pedro da Aldeia
Dia 11 de Abril de 2013, o
grupo Casa dos Azulejos, de São Pedro da aldeia, nos presenteou com um momento especial
para a cena teatral em nossa região. Em que pese a eterna resistência do nosso,
ainda, combalido teatro, mas que, como nos filmes de zumbi estadunidenses,
parece levantar da tumba para caminhar a
passos largos em direção ao óbvio,
mostrar a potente energia criativa e a capacidade ímpar que o artista local
tem, para, com sua eterna teimosia, encarar os desafios, vencer as forças da
escuridão, e nos iluminar com sua frágil, porém, determinada criação.
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Capitaneado por Bruno Peixoto e Anna Fernanda, o grupo Casa dos Azulejos emplacou seu novo espetáculo, com uma direção segura e bem resolvida. |
Foi assim que vi,
entusiasmado e cheio de esperanças, e espetáculo “Perdoa-me por me Traíres”, do
dramaturgo, eterno e inesquecível, Nelson Rodrigues. O trabalho trouxe uma
ótima marca para o teatro de Cabo Frio como um dos grandes momentos de 2013. No
palco vimos uma mescla de atores principiantes com outros já maduros e tivemos
ainda a grata e boa surpresa de ver alguns momentos de conexão e até
arrebatamento, mostrando que o teatro, quando feito com seriedade, tem algo pra
dizer, provoca a platéia e impulsiona a arte do ator.
Nas cenas iniciais o
espetáculo se revelou um pouco arrastado, com uma coreografia muito bem desenhada
pelo diretor do espetáculo, Nelson Yabeta, mas inda executada de forma dispare pelos
atores, mostrando claramente que alguns estavam mais bem preparados fisicamente
do que outros. Também notei um certo descompasso no conjunto vocal, com falas
ainda na garganta, sem aquele tradicional trabalho de diafragma que ajuda no
controle da respiração e impulsiona a interpretação contribuindo para a
cadência da cena. O início, apesar da falta de ritmo, não comprometeu o
espetáculo, que foi crescendo aos poucos e arrebatou o público.
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Marcante desempenho da atriz Anna Fernanda, nesta cena um verdadeiro jogo com o ator e iluminador Bruno Peixoto. |
O Elenco, capitaneado por
Bruno Peixoto e Anna Fernanda, foi digno e emplacou, trazendo para a cena
recursos dramáticos à altura das exigências do maior dramaturgo brasileiro,
Nelson Rodrigues, e em alguns momentos, tivemos o impacto de encontrar
situações inesquecíveis, como aquele em que atriz Anna Fernanda, no papel de
Judite, triangula magistralmente com Bruno Peixoto, no papel de Tio Raul,
momentos antes de sua morte, quando ele, Tio Raul, depois de um excelente exercício
do que há de melhor na arte do ator, oferece a ela o veneno. A cena da morte de Judite traz vivacidade para um
belo momento desta atriz sensível, de São Pedro da Aldeia. Fica aqui, também,
um destaque para os atores Walter Ramos, com uma bela composição do personagem “Deputado
Jubileu de Almeida” e o bom desempenho do ator Johnny Vieira no papel de “Gilberto", o marido supostamente
traído”. Johnny encostou bem no personagem, dominava o texto e projetava
bem a voz enquanto Walter nos deu um belo momento de humor sarcástico.
Com relação ao cenário,
gostei dos objetos pendurados, sugestão de pontos de luzes que revelem os
objetos (discretamente) para que eles não fiquem sem brilho, parecendo apenas
decoração. O figurino estava fluido, combinando com o conjunto, dialogando bem
com a luz, a maquiagem e o ritmo conquistado ao longo do espetáculo.
Quanto à proposta do
diretor, Nelson Yabeta, podemos perceber
que ele reuniu três forças determinantes no seu processo criativo; A direção das
cenas, o Cenário e a Trilha Sonora, esta última, marcante, durante o
espetáculo. É uma direção marcada por referências estéticas e visuais do cinema de Almodóvar, a dança
expressionista de Pina Bauch, e com uma energia extra da brasilidade escancarada
e pulsante na execução dos objetivos propostos, por um elenco que aceitou ser
desafiado.
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