TEATRO PARA DANÇAR

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Lembrando Adassa Martins.

Adassa Martins, uma atriz que saiu de Cabo Frio para o Mundo.
Foto: Juliana Chalita.
Lembro desde que cheguei em Cabo Frio, em 2004, a dedicação da atriz Adassa Martins, ao teatro local. Sua geração florescia. Era um grupo fortíssimo e dedicado. Circulando pelo fazer artístico da cidade, criando uma forte energia agregadora, com muita fé no teatro. Foram muitos os momentos em que a vi no palco, mas, sem dúvida que a mais inesquecível é sua atuação em "Flores, Para quem o Amor Passou", de Eduardo Magalhães, quem teve o privilégio de assistir aquela peça, jamais a esquecerá!
A cena era praticamente de coro, não havia destaque individual, senão a excelente dramaturgia e a estupenda direção do "Eduardinho", que, na época, tinha algo próximo de 20 anos de idade. Um acontecimento artístico, estético que a gente nunca esquece. E lá estava ela, uma jovem pulsante, sensível, devotada ao teatro. Foram muitos os momentos em que a encontrei nos bastidores do Teatro  Municipal de Cabo Frio, dedicando-se ao que ela escolheu como ofício. 
Depois de tantas voltas que o mundo deu, tive o privilégio de conversar com a jovem atriz, numa festa si FESQ, na casa de sua família, e ela então me contou que estava orgulhosa porque saiu de Cabo Frio para fazer teatro e estava conseguindo. Seu nome não parava de circular pelos teatros da vida; em elencos diversos, pelas casas de espetáculos do Rio de Janeiro e depois, pelo Brasil a fora; Sempre havia um pouco de sua energia espalhada pelos rincões da arte, deste imenso pais.
"Se eu Fosse Iracema" com Addassa Martins - Foto: Julio Melo.
Recentemente, com a explosão dos espaços independentes de Cabo Frio, ela reaparece com seu solo "Se eu Fosse Iracema", a atriz profundamente sensível e técnica, dava lugar a uma energia, que vai muito além da arte, algo espiritual, um sentimento de contribuição para nossos povos indígenas. 
Adassa é a compaixão em pessoa, nem quero mais falar dela como atriz, mas da pessoa que fez do teatro um lugar, também, para o exercício do amor, da paz, da reflexão e da liberdade de expressão. 
Quando esteve em Cabo Frio, teatro lotado, um espetáculo esmerado, sem glamour, apenas reflexão e pensares, um mergulho na alma humana, inesquecível.

Veja aqui a crítica escrita por José Facury sobre a peça 
"Se eu Fosse Iracema"

Pegar um discurso em defesa de uma etnia e colocar em cena, mesmo pautado em testemunhos reais, pode ser uma tarefa interessante como exercício intelectual para extração de possíveis conflitos. Agora, ao ponto de aguçar o interesse do espectador, geralmente o faz permanecer no nível da leitura panfletária, principalmente se a narrativa for entregue a um interprete branco. Tudo isso poderia trair uma empreitada, mas não é o que se vê no espetáculo Se Eu Fosse Iracema, em cartaz no Teatro Quintal, interpretada pela meticulosa e carismática atriz Adassa Martins que, juntamente com a minuciosa e criativa direção de Fernando Nicolau constrói e desconstrói momentos de rara beleza. Ali, o excesso narrativo é diluído em partituras que se complementam com máscaras e vocalizações muito bem elaboradas entre o butoh, o coloquial e o distanciamento brechtiniano que nos é servido ao redor de um tronco cenográfico serrado, plantado no palco onde emanam as dores das perdas silvestres, juntamente com a dos silvícolas que ali fazem suas oferendas e purgações a cada dia. Se eu fosse Iracema, é um solo magistral amarrado na historia dos sentimentos poéticos de uma velha índia contadora que desenvolve transições em outras personagens que fazem o contra ponto ás vezes criveis e em outras de provocadora ironia, para extrair daí o conflito, que foca muito mais na narrativa por ela mesma, do que nos possíveis e imaginários coadjuvantes, como é comum nos solos físicos. Enfim, experiencias que somente o teatro pode expressar quando desenvolve os relatos viscerais das nossas perdas históricas colocando essa obra em uma instigante encenação na plêiade dessa técnica. E mais que justa a indicação da nossa atriz ao Prêmio Shell.
José Facury Helluy



Curta este Bate Papo e Saiba mais sobre este belíssimo espetáculo!


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