TEATRO PARA DANÇAR

sábado, 16 de abril de 2016

TCCexta 02 - O Sarau do TEATRO.

O TCCEXTA é uma ópera vivida por dentro. Existe um roteiro presumido e um roteiro que se constrói a partir da harmonia das relações e do trabalho conjunto do TCC-Teatro Cabofriense de Comédia e a equipe do Teatro Garagem.

Espaço aconchegante, corpos instalados para a fruição divina da arte.
Foto: Manuela Paiva Ellon

O Teatro Garagem é um espaço construído a partir da força de trabalho de um grupo e uma filosofia. Sementes plantadas muitos anos antes e que, hoje, é um sonho tornado realidade. E é dentro deste contexto que a equipe do TCC atua e interage. A presença de Silvana Lima e Ivan Tavares, traz para o evento um sentimento de que o teatro vive plenamente sua tradição e sua força e se prepara para seu papel mais profundo e primordial: O mergulho na alma, partindo para uma construção sólida de raízes bem fincadas no solo da criação artística. Poder ouvir Ivan Tavares, falar apaixonadamente para uma nova geração, sobre a aflição causada pelo momento crítico que vivemos na política nacional e, ao mesmo tempo, uma palavra de esperança e fé na arte do ator. Ao Final, Ivan canta uma canção símbolo para quem faz teatro. A música do inesquecível espetáculo "Bailei na Curva", do grupo "Do Jeito que Dá", que abriu as energias do teatro nos anos 80, indo fundo nos porões da ditadura, uma década antes.
Muitas coisas mágicas aconteceram, o próprio evento se reconfigurou, fazendo uma leitura viva do espaço garagem. A partir da segunda parte, o próprio espaço virou palco cedendo seu relevo à fúria do poeta Miguel Lima, por exemplo. Vê-lo em pé, sobre a contenção da piscina, recitando sua poesia com uma chuva de indignação e arte, uma passagem direta, sem atalhos, para o olho do furacão da arte, aliás, o dia 15 de abril foi o dia Mundial da Arte. Miguel não estava só. 

"Coração do Mar", uma performance feita com detalhismo e cuidado, aprovadíssima pelo plateia presente.


Celso Guimarães, costurava a presença de convidados com sua intervenção bem humorada e criativa, levando coragem para os jovens poetas que camuflavam seus poemas em smartphones e guardanapos, esperando a hora de subverter a timidez e confrontar os olhares gulosos da platéia. Em algum momento, Jorge Rodrigues, "declarou" seu poema, com uma fluência incrível, levando o público a repetir as falas como num refrão de música. Também nos emocionamos com a presença do poeta André García, que abriu a noite, com sua poesia corrosiva, mostrando um profundo dom de comunicar sua estética com força e muita energia criativa. Logo em seguida, Mery Damasceno, com toda sua irreverência, mostrava para a platéia lotada, os causos e histórias envolvendo Cabo Frio e Região, e depois, numa bonita interação com Mauro Silveira, dava ênfase à vida teatral da cidade, que ela conhece tão bem, com histórias que recolhe no seu magnífico trabalho de memorialista. Yuri Vasconcellos, não deixou por menos, mostrou claramente porque, hoje, é uma das grandes forças de renovação das artes visuais no estado do Rio de Janeiro. Sua obra consistente, tomou de assalto os olhares e deixou um rastro de luz por cada acontecimento do TCCexta 2.
A abertura, com exibição de audiovisual e a bela canção "Coração do Mar", interpretada pelo TCC, numa magnífica criação coletiva que fez o público se conectar com as forças energéticas provindas das sensibilidade do grupo, que esteve impecável e viveu plenamente, todos os estágios de desenvolvimento de um evento complexo mas não menos prazeroso de se fazer. Enfim, o TCCEXTA veio pra ficar e agora, é afinar a ferramente-arte para recriar e reinventar momentos como este. Momentos que nos faz dar um sentido ritualístico para o fazer artístico.

Jiddu Saldanha - Blogueiro


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