Bruna Alves.
Carioca, nascida como muitos outros em 26 de maio de 1995,
morou em Niterói a maior parte da vida, e veio parar em Cabo Frio no ano de
2008.
Terminou o ensino médio em escola pública no ano de 2012. Agora continua estudando para passar para cinema na UFF. Estuda teatro e vive dramaturgia, seu sonho é um dia ser humilde mestre como os que a rodeiam.
Escreve desde que é gente, e ama as inutilidades da poesia e do ócio. Leminski é seu “pai” e seu “avô” Manoel de Barros.
Era
Quase Não Fosse Tanto
Autora:
Bruna Alves
Livremente
inspirado na obra de Paulo Leminski
Personagens:
Isadora (jovem, leitora compulsiva, 21 anos)
Davi (jovem, escritor,
namorado de Isadora, 23 anos)
Cenário:
Um quarto bagunçado, com livros espalhados, copos, pratos (restos de comida),
cinzeiros e maços de cigarro. Uma cama mal arrumada, um notebook que toca Jeff
Buckley, uma cadeira ao lado da cama.
Figurino:
Davi- Apenas de ceroula.
Isadora- Uma camisa masculina do
Pink Floyd.
Gênero:
Drama Poético
Ato
Único
Cena
I
Isadora - (sentada numa cadeira ao lado da cama com um caderno na mão, olhava para Davi) -
Como pode ser tão doído e aparentar um sorriso tão verdadeiro?
Davi - (a olha, anda pelo quarto apenas de ceroula, dá um gole numa garrafa velha de
vinho, uma tragada no cigarro... Senta na cama.)- É que tudo dói de tão belo.
Esse antro de lembranças adolescentes e jovens, todo o mundo que não para do
lado de fora dessa escuridão em que nos escondemos, o balão que se solta das
mãos de uma criança. Cada segundo de beleza machuca.
Isadora - (sorrindo) Poeta sofre antecipadamente, na hora e depois. Já não é o mundo tão
comum? Precisamos nos embebedar de vinho de dia e de noite, e continuar sendo
clichê, e continuar repetindo sonhos que nunca se realizam.
Davi
(pega seu caderno das mãos de Isadora, joga longe, a puxa e a beija com
rebeldia. Isadora sai da cadeira e vai para a cama, pega um livro que estava
jogado na cama, recosta sobre Davi e ameaça a começar a lê-lo, Davi diz:) Ler
é bom, mas carne também é, e sua fraqueza de carne muito mais. Larga as linhas,
deixe-me ler você.
Isadora - (com certa relutância se esquiva de Davi e seus braços, abre espaço para falar) Não sou poeta como você, ler é a única forma de me sentir próxima do que não
sou e do que queria ser. Talvez poetize na prosa, mas quando tenho que passar
para linhas, elas se tornam tortas e imperfeitas.
Davi -
(se contêm, pega as mãos de Isadora e fala delicadamente) Não se obrigue a
escrever, não se obrigue a vangloriar algo que não é seu. Fazemos o que podemos
e o que nos permitimos fazer, tire essa pressão do peito, respire e quando
acontecer, aconteceu.
Cena II
(Davi
levanta, conduz Isadora pelas mãos, a rodopia, valsam pelo quarto rindo,
sorrindo, saltitando... Deitam no chão, se entreolham em meio àquela bagunça, Isadora
puxa a garrafa de vinho que estava ao pé da cama, dá um gole. Davi dá outro
gole.)
Isadora-
Por que escreve?
Davi - (com ar
de confusão, se senta e responde) Não há por que. Escrevo e assim como
respiro, formo linhas, frases, que poderiam estar alinhadas lado a lado, frente
a frente, uma embaixo outra em cima. Não me importa se é uma palavra escrita
numa parede qualquer, como acontece com freqüência, e que minha mãe não saiba,
mas por toda a casa há palavras escondidas. Não é que escrevo para ser ou para
necessariamente ter algo escrito. Escrevo somente. “A aranha tece teias. O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas. Tem que ter por quê?”, já dizia Leminski. E assim digo
agora, que como ele, e como tantos outros que não sabem: escrevemos porque
naturalmente precisamos.
Isadora - (admirada e entusiasmada, se levanta
completamente do chão. Anda para um lado e para o outro. Davi apenas a observa.
Ela o olha como quem entendeu algo ou teve alguma ideia e dispara quase que sem
respirar) Essa
coisa toda de fazer e ser e mostrar que é, é tão mais necessária do que parece
que é. Não que eu ache isso necessariamente uma necessidade, mas é necessário
que sejamos quem necessitamos ser para com nós mesmos, necessidade versus
querer. Sinceramente? Não sei nem do que estou falando. É que esses sempre
serão temas eternos de uma mente inquietante, essa necessidade de contestar e
adiar o que é comum, você não quer se tornar comum. Ser você, no caso, não é
comum. Pensa se só adia tudo por puro marginalismo ou se de fato deveria
contestar essas coisas e lutar pelos seus sonhos...
Davi - (completamente
espantado) Nunca mais diga, jamais, que não é uma poeta. É mais do que qualquer
um, pois fala antes de escrever e não escreve simplesmente porque não há essa
necessidade. Seja você e aja como você, não necessite ser o que não é.
Isadora - (emocionada
responde ao conselho) Serei eu, serei você, serei todos ao mesmo tempo, serei
quem eu precisar ser. Jamais me forçarei a ser o que não sou e como já dizia
também Leminski “isso de querer ser exatamente
aquilo que a gente é ainda vai nos levar além”.
Davi - (segura a mão de Isadora e completa) Se não já
nos levou, quem sabe onde estamos e o que nos espera?
Isadora - (sorri, olha para Davi e fala) Tudo parecia
ser triste, mas não era, era apenas belo em excesso. O escuro parecia nos
engolir, mas não engole. Só nos dá a oportunidade de iluminar algo. Seremos
nós, seremos livres, até que a noite nos sorria.
Davi - (feliz e orgulhoso) Até que a noite nos sorria.
Davi e Isadora - (Os dois chegam os rostos perto um do
outro, acariciam face a face, se beijam longamente. Separam-se repentinamente,
cada um vai para um canto diferente do quarto, cada um pega um caderno e um
lápis, começam a escrever como desvairados. Param de escrever ao mesmo tempo,
olham para o nada e dizem juntos) Já sorriu.
Irado Bruna!! Vai dar uma ótima peça.. ;)
ResponderExcluirIrado
ResponderExcluirTALENTO É A PALAVRA !!!
ResponderExcluirMUITO SUCESSO PRA VC BRUNA!!!