SE EU FOSSE IRACEMA
Ontem, dia 22 de Julho, no Teatro Quintal, em Cabo Frio, Adassa Maritins apresentou seu solo teatral "Se eu Fosse Iracema". Arrebatou o público. José Facury escreveu esta crítica.
José Facury Helluy
Ontem, dia 22 de Julho, no Teatro Quintal, em Cabo Frio, Adassa Maritins apresentou seu solo teatral "Se eu Fosse Iracema". Arrebatou o público. José Facury escreveu esta crítica.
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"Se eu Fosse Iracena" - Direção: Fernando Nicolau. |
Pegar um discurso em defesa de uma etnia e colocar em cena, mesmo pautado em testemunhos reais, pode ser uma tarefa interessante como exercício intelectual para extração de possíveis conflitos. Agora, ao ponto de aguçar o interesse do espectador, geralmente o faz permanecer no nível da leitura panfletária, principalmente se a narrativa for entregue a um interprete branco. Tudo isso poderia trair uma empreitada, mas não é o que se vê no espetáculo Se Eu Fosse Iracema, em cartaz no Teatro Quintal, interpretada pela meticulosa e carismática atriz Adassa Martins que, juntamente com a minuciosa e criativa direção de Fernando Nicolau constrói e desconstrói momentos de rara beleza. Ali, o excesso narrativo é diluído em partituras que se complementam com máscaras e vocalizações muito bem elaboradas entre o butoh, o coloquial e o distanciamento brechtiniano que nos é servido ao redor de um tronco cenográfico serrado, plantado no palco onde emanam as dores das perdas silvestres, juntamente com a dos silvícolas que ali fazem suas oferendas e purgações a cada dia. Se eu fosse Iracema, é um solo magistral amarrado na historia dos sentimentos poéticos de uma velha índia contadora que desenvolve transições em outras personagens que fazem o contra ponto ás vezes criveis e em outras de provocadora ironia, para extrair daí o conflito, que foca muito mais na narrativa por ela mesma, do que nos possíveis e imaginários coadjuvantes, como é comum nos solos físicos. Enfim, experiencias que somente o teatro pode expressar quando desenvolve os relatos viscerais das nossas perdas históricas colocando essa obra em uma instigante encenação na plêiade dessa técnica. E mais que justa a indicação da nossa atriz ao Prêmio Shell.
José Facury Helluy