Camille Miranda
Nasci em Cabo Frio, em 04 de Abril de 1998. Quando eu era pequena não gostava
muito ler, fui começar a amar a leitura quando tinha mais ou menos 10 anos, faz
pouco tempo. O livro que me encantou foi As Crônicas de Nárnia. Sempre gostei
muito de estudar, ou seja, aprender na escola ou sozinha, e sendo assim comecei
a escrever respostas muito longas nos exercícios. Com as minhas respostas,
vieram os textos e a vontade de escrever.
Confesso que as
vezes tenho preguiça, afinal quem não tem? Meus amigos costumam dizer que
“viajo demais”. Eu amo desenhar, escrever, cantar, dançar (mesmo não sabendo),
criar, atuar...
Em relação a minha família, meus pais tiveram vários obstáculos na vida, e
sempre me incentivaram, me dando apoio e conselhos. Minha família não é artista,
são mais para o lado de ciências, porém cada um tem o seu talento em artes,
como meu pai que é tipo um inventor. Eu os amo muito, e não sei o que seria de
mim sem eles e sem Deus.
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Ainda estou vivo?
Texto teatral inspirado
nas músicas Even Flow e Alive da banda Pearl Jam, albúm Ten de 1991.
Autora: Camille Miranda.
Ato único em 3 Cenas
Personagens
Gabriella: Apelidada de
Gabbe. Mulher muito bonita porém desleixada. Não fala muito, e mostra ser uma
pessoa correta, até que chega a noite e ela vai trabalhar em um bordel. Mãe
solteira.
Ethan: Jovem quieto,
filho de Gabbe. Ele tem problemas psicológicos, já foi internado. Muito
sensível a situações extremas. Tem mania de balançar as pernas quando está
nervoso, costuma passar as mãos no rosto, usa luvas sempre, não consegue ficar
quieto e não demonstra sentimentos.
Outros:
Homem jovem do bordel.
Dois médicos de uma clínica psiquiatra.
CENA 1
Cenário
Uma sala pequena, aberta para a cozinha.
(Está bem tarde, Gabbe
entra em casa caindo de bêbada. Ethan está sentado no sofá vendo um filme,
estava esperando sua mãe).
Ethan: Mãe? Você está bem?
Gabbe: (Gabbe esbarra numa
planta que quase cai. Ela ri.)
Sim, mais do que
bem...
Ethan:
(Se levanta, vai ao
encontro dela.)
Mãe, você está bêbada?
Gabbe: (Quase cai.) Olha, eu sou sua mãe, não
te devo satisfações.
Ethan: (Passa as mãos no rosto.) A partir do momento que
você chega nesse estado, deve sim.
Gabbe: (Empurra Ethan e senta
esparramada no sofá.) Ah menino, eu só saí um
pouquinho e bebi com uns amigos, nada demais.
Ethan: (Fala um pouco mais
alto.) Você tem feito isso todas
as noites!
Gabbe: (Grita, geme e coloca a
mão na cabeça com dor.) Qual o problema! Vai me
regular agora?
Ethan: (Segura um dos braços.) Você não era assim quando
meu pai estava aqui.
Gabbe: Você não sabe nada.
(Fecha os olhos por um tempo.)
Ethan: Sei que isso não é o
comportamento de uma mãe.
Gabbe: E se eu dissesse que não
queria ser mãe? (Olhar desafiador.)
Ethan: (Passa as mãos no rosto
rápido.) Você me teve, então agora
não é questão de querer ou não querer.
Gabbe: Bom, senhor
responsável... Acho que você já está bem grandinho para eu lhe contar um
pequena história. Vem senta aqui... (Dá suaves palmadinhas no lugar ao lado no
sofá.) (Ele sentou no braço do
sofá.)
Gabbe:
O cara que você pensava
ser seu pai, era apenas um traste... Ele não valia nada tá bom? Até me bateu
uma vez, só que eu mostrei para ele que tenho minhas defesas... (Ela riu alto.)
Ethan: (Confusão.) O que?
Gabbe: É, acho que você deveria
estar feliz por ele não ser seu pai. Ele se fazia de bonzinho para você, adora
crianças aquele lá (ela ri de novo). Ele não voltou mais pra casa porque deve
ter sido preso por ai. Bom, achei você deveria saber disso...
Ethan: (Perplexo) Por que você não me
contou antes?
Gabbe: (Levanta uma mão e a
abaixa rápido.) Ah, não tinha
importância. (Ela levanta e passa a
mão no cabelo dele e vai para a cozinha.)
Ethan: (Balança as pernas, passa
as mãos no rosto.) Cadê meu pai... meu pai
de verdade?
Gabbe: Ele morreu quando
você tinha 12 anos. Lembro bem, você estava sozinho em casa e eu estava fazendo
sei lá o que (pausa, ela ri), ai me ligaram e me disseram que ele estava
morrendo.
Ethan: (Sem emoção.) Porque você me fez
acreditar que aquele cara era o meu pai, se ele era tão ruim assim?
Gabbe: Melhor um, do que nenhum
não é criança?
Ethan: (Começa a falar alto) Eu tinha o direito de...
Gabbe: Eu sei, me desculpe você
não ter visto ele, mas estou feliz que conversamos querido. Espero que você
esteja bem, não quero te internar de novo. Boa noite...
(Ela volta e lhe dá um
beijo, ela quase cai, retoma o equilíbrio e vai dormir.)
Ethan: (Balança as pernas por um
tempo, olha para os lados, passa as mãos no rosto. Olha para cima.) Bom, acho que ainda estou
vivo.
(Blackout)
CENA 2
Cenário:
Casa Noturna com algumas
pessoas juntas, lugar pequeno e sujo. Um quarto luxuoso com uma cama de casal
forrada com tecidos vermelhos.
(Ethan decide seguir sua
mãe para ver onde ela estava indo todas essas noites. Ele se depara em frente à
casa noturna, sua mãe entra pela porta de trás. Ele a segue até que ela entra
por outra porta, ele mantém distância e observa pela brecha).
Gabbe: Estou pronta.
(Um homem jovem aparece e
tira a blusa).
Homem: Que bom, também estou.
(Gabbe se deita na cama e
o examina, vendo cada parte de seu corpo. Ela dá um sorriso malicioso, pega uma
bebida e começa a tomar).
(Ethan fica paralisado atrás
da porta. Não consegue acreditar.)
Homem: Você é tão bonita.
Gabbe: Não precisa me elogiar
agora...
(Eles estão prestes a se
beijar quando a porta se abre e aparece Ethan, com olhos arregalados, boca
entreaberta, segurando os braços. O homem jovem olha sem entender).
Gabbe: (Assustada) Ethan! O que você está
fazendo aqui?! (Se levanta cambaleando, deixa a bebida cair.)
Ethan: Mamãe? (Passa as
mãos nos rosto.)
Gabbe: Eu posso explicar meu
filho, vem aqui.
Ethan: Mamãe... (balança as
pernas.)
(Ethan se vira e começa a
andar pelo lugar esbarrando nas pessoas, olhar distante. Gabbe vai atrás dele).
Gabbe: Ethan, não é o que você
está pensando!
(Ethan Para. Gabbe
desacelera o passo e espera ele se virar. Ethan se vira devagar).
Ethan: (Sem emoção.) Não é o que eu estou
pensando da mesma forma que não era quando eu estava sozinho em casa e você
chegou com uma faca ensanguentada? Não é o que eu estou pensando do mesmo jeito
que eu perguntei naquele dia o que você estava fazendo, você limpou o objeto na
blusa, deixando uma mancha vermelha e dizendo: “Estava apenas acertando
contas?”... Não é o que eu estou pensando do mesmo jeito de que sempre me
fizeram acreditar? Agora eu me lembro, e sei o que você realmente fez naquele
dia Gabriella.
Gabbe: (Perplexa.) Me disseram que você
nunca mais lembraria disso.
Ethan: Eu sei... Mas me diga uma
coisa, por que você matou meu pai verdadeiro?
Gabbe: Eu o matei porque ele
iria se casar, e nunca mais me veria de novo.
Ethan: Sua mente é engraçada,
aposto que chama isso de ato de amor.
Gabbe: O amor não é uma loucura?
Ethan: Diria que é loucura para
quem não sabe como fazê-lo.
(Ethan se vira e sai
correndo.)
(Blackout)
CENA 3
Cenário: Quarto sujo,
algumas coisas espalhadas. Ele não está na sua casa.
Ethan: (Ethan deita na cama). Esse travesseiro está tão
duro... Deve ser por isso que eu não durmo a dias? Não, eu me lembro de algo
mais, um olhar, lembro da cor vermelha... Por que eu não consigo tirar esses
pensamentos da minha cabeça? (levanta). Talvez, com o passar dos
dias eu fique melhor... (Pega uma foto que
estava em cima de suas coisas, parece uma família feliz).
Quem são esses? Pensei
que soubesse, mas já não tenho certeza... (olha para o espelho e
tenta sorrir como na foto, porém o resultado é um sorriso triste). Não, isso não parece
certo. (Estremece. Esfrega
as mãos nos braços.) Desde quando aqui é tão
frio? (Senta na cama). Esses pensamentos não
param de chegar, por quê? Por quê? Não entendo! Pensamentos como borboletas
voando em um sentido caótico, bem aqui na minha cabeça... Não fazem sentido
algum. Por que eu sinto essas mãos puxando gentilmente minha alma? Elas querem
me levar para algum lugar, chegam sorrateiras, silenciosas. Mas eu não
entendo... Eu ainda estou vivo? Tenho que expulsar essas coisas da minha cabeça
(coloca as mãos na cabeça e balança.) Sinto que devo começar minha vida de
novo... Algum dia.
(Gabbe entra pela porta de
súbito).
Gabbe: Ethan! Você está aqui! Eu
te procurei por dias! Por que você sumiu?
Ethan: Não me lembro nada do dia
em que fugi, só me lembro de um olhar, do vermelho mãe.
Gabbe: (Gabbe engole em seco.) Meu filho, eu fiquei
desesperada! Pensei que tivesse acontecido alguma coisa ruim!
Ethan: Parece que aconteceu algo
ruim mas eu ainda estou vivo, tem alguma coisa errada?
Gabbe: Não!
Ethan: Eu mereço estar vivo?
Gabbe: Claro que sim meu filho! (Chega perto dele e o
abraça.)
Ethan: (Balança as pernas.) Então eu vou começar de novo...
Algum dia.
Gabbe: (Sorri.) Que tal hoje?
(Ethan olha para ela sem
entender).
Gabbe: Esses homens bondosos vão
te levar para um lugar onde você pode recomeçar.
(Dois homens de branco
entram. Ethan olha confuso).
Ethan: (Passa as mãos no rosto, balança
as pernas.) Eles vão me guiar para o
lugar das mãos silenciosas? O lugar que me dizem na minha cabeça?
Gabbe: Você vai ficar bem. Ela lhe dá um beijo na
testa.
(Ethan olha para um lado e
para o outro, passa as mãos no rosto enquanto balança as pernas, ele se levanta
e sai pela porta. Gabbe fica um tempo, olha as coisas do quarto totalmente
séria, e lentamente sai fechando a porta atrás de si).
FIM
Autora: Camille Miranda
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