TEATRO PARA DANÇAR

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Nucleo de Dramaturgia do OFICENA - NUDRA.

Camille Miranda


Nasci em Cabo Frio, em 04 de Abril de 1998. Quando eu era pequena não gostava muito ler, fui começar a amar a leitura quando tinha mais ou menos 10 anos, faz pouco tempo. O livro que me encantou foi As Crônicas de Nárnia. Sempre gostei muito de estudar, ou seja, aprender na escola ou sozinha, e sendo assim comecei a escrever respostas muito longas nos exercícios. Com as minhas respostas, vieram os textos e a vontade de escrever.

Confesso que as vezes tenho preguiça, afinal quem não tem? Meus amigos costumam dizer que “viajo demais”. Eu amo desenhar, escrever, cantar, dançar (mesmo não sabendo), criar, atuar...

Em relação a minha família, meus pais tiveram vários obstáculos na vida, e sempre me incentivaram, me dando apoio e conselhos. Minha família não é artista, são mais para o lado de ciências, porém cada um tem o seu talento em artes, como meu pai que é tipo um inventor. Eu os amo muito, e não sei o que seria de mim sem eles e sem Deus.

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Ainda estou vivo?

Texto teatral inspirado nas músicas Even Flow e Alive da banda Pearl Jam, albúm Ten de 1991.
Autora: Camille Miranda.

Ato único em 3 Cenas

Personagens

Gabriella: Apelidada de Gabbe. Mulher muito bonita porém desleixada. Não fala muito, e mostra ser uma pessoa correta, até que chega a noite e ela vai trabalhar em um bordel. Mãe solteira.
Ethan: Jovem quieto, filho de Gabbe. Ele tem problemas psicológicos, já foi internado. Muito sensível a situações extremas. Tem mania de balançar as pernas quando está nervoso, costuma passar as mãos no rosto, usa luvas sempre, não consegue ficar quieto e não demonstra sentimentos.
Outros:
Homem jovem do bordel.
Dois médicos de uma clínica psiquiatra.


CENA 1

Cenário
Uma sala pequena, aberta para a cozinha.

(Está bem tarde, Gabbe entra em casa caindo de bêbada. Ethan está sentado no sofá vendo um filme, estava esperando sua mãe). 


Ethan: Mãe? Você está bem? 

Gabbe: (Gabbe esbarra numa planta que quase cai. Ela ri.)
 Sim, mais do que bem...

Ethan: 
(Se levanta, vai ao encontro dela.)
Mãe, você está bêbada?

Gabbe:  (Quase cai.) Olha, eu sou sua mãe, não te devo satisfações.

Ethan: (Passa as mãos no rosto.) A partir do momento que você chega nesse estado, deve sim.

Gabbe: (Empurra Ethan e senta esparramada no sofá.) Ah menino, eu só saí um pouquinho e bebi com uns amigos, nada demais.

Ethan: (Fala um pouco mais alto.) Você tem feito isso todas as noites!

Gabbe: (Grita, geme e coloca a mão na cabeça com dor.) Qual o problema! Vai me regular agora?

Ethan:  (Segura um dos braços.) Você não era assim quando meu pai estava aqui.

Gabbe: Você não sabe nada. (Fecha os olhos por um tempo.)

Ethan: Sei que isso não é o comportamento de uma mãe.

Gabbe: E se eu dissesse que não queria ser mãe? (Olhar desafiador.)

Ethan: (Passa as mãos no rosto rápido.) Você me teve, então agora não é questão de querer ou não querer.

Gabbe: Bom, senhor responsável... Acho que você já está bem grandinho para eu lhe contar um pequena história. Vem senta aqui... (Dá suaves palmadinhas no lugar ao lado no sofá.) (Ele sentou no braço do sofá.)

Gabbe: 
O cara que você pensava ser seu pai, era apenas um traste... Ele não valia nada tá bom? Até me bateu uma vez, só que eu mostrei para ele que tenho minhas defesas... (Ela riu alto.)

Ethan: (Confusão.) O que?

GabbeÉ, acho que você deveria estar feliz por ele não ser seu pai. Ele se fazia de bonzinho para você, adora crianças aquele lá (ela ri de novo). Ele não voltou mais pra casa porque deve ter sido preso por ai. Bom, achei você deveria saber disso...

Ethan: (Perplexo) Por que você não me contou antes? 

Gabbe: (Levanta uma mão e a abaixa rápido.) Ah, não tinha importância. (Ela levanta e passa a mão no cabelo dele e vai para a cozinha.)

Ethan: (Balança as pernas, passa as mãos no rosto.) Cadê meu pai... meu pai de verdade?

Gabbe: Ele morreu quando você tinha 12 anos. Lembro bem, você estava sozinho em casa e eu estava fazendo sei lá o que (pausa, ela ri), ai me ligaram e me disseram que ele estava morrendo.

Ethan:  (Sem emoção.) Porque você me fez acreditar que aquele cara era o meu pai, se ele era tão ruim assim?

Gabbe: Melhor um, do que nenhum não é criança?

Ethan: (Começa a falar alto) Eu tinha o direito de...

Gabbe: Eu sei, me desculpe você não ter visto ele, mas estou feliz que conversamos querido. Espero que você esteja bem, não quero te internar de novo. Boa noite...
(Ela volta e lhe dá um beijo, ela quase cai, retoma o equilíbrio e vai dormir.)

Ethan: (Balança as pernas por um tempo, olha para os lados, passa as mãos no rosto. Olha para cima.) Bom, acho que ainda estou vivo.

(Blackout)

CENA 2

Cenário:
Casa Noturna com algumas pessoas juntas, lugar pequeno e sujo. Um quarto luxuoso com uma cama de casal forrada com tecidos vermelhos.

(Ethan decide seguir sua mãe para ver onde ela estava indo todas essas noites. Ele se depara em frente à casa noturna, sua mãe entra pela porta de trás. Ele a segue até que ela entra por outra porta, ele mantém distância e observa pela brecha).

Gabbe: Estou pronta.

(Um homem jovem aparece e tira a blusa).

Homem: Que bom, também estou.

(Gabbe se deita na cama e o examina, vendo cada parte de seu corpo. Ela dá um sorriso malicioso, pega uma bebida e começa a tomar).

(Ethan fica paralisado atrás da porta. Não consegue acreditar.)

Homem: Você é tão bonita.
Gabbe: Não precisa me elogiar agora...

(Eles estão prestes a se beijar quando a porta se abre e aparece Ethan, com olhos arregalados, boca entreaberta, segurando os braços.  O homem jovem olha sem entender).

Gabbe: (Assustada) Ethan! O que você está fazendo aqui?! (Se levanta cambaleando, deixa a bebida cair.)

Ethan: Mamãe? (Passa as mãos nos rosto.)

Gabbe: Eu posso explicar meu filho, vem aqui.

Ethan:  Mamãe... (balança as pernas.)

(Ethan se vira e começa a andar pelo lugar esbarrando nas pessoas, olhar distante. Gabbe vai atrás dele).

Gabbe: Ethan, não é o que você está pensando! 

(Ethan Para. Gabbe desacelera o passo e espera ele se virar. Ethan se vira devagar).

Ethan: (Sem emoção.) Não é o que eu estou pensando da mesma forma que não era quando eu estava sozinho em casa e você chegou com uma faca ensanguentada? Não é o que eu estou pensando do mesmo jeito que eu perguntei naquele dia o que você estava fazendo, você limpou o objeto na blusa, deixando uma mancha vermelha e dizendo: “Estava apenas acertando contas?”... Não é o que eu estou pensando do mesmo jeito de que sempre me fizeram acreditar? Agora eu me lembro, e sei o que você realmente fez naquele dia Gabriella. 

Gabbe: (Perplexa.) Me disseram que você nunca mais lembraria disso.

Ethan: Eu sei... Mas me diga uma coisa, por que você matou meu pai verdadeiro?

Gabbe: Eu o matei porque ele iria se casar, e nunca mais me veria de novo.

Ethan: Sua mente é engraçada, aposto que chama isso de ato de amor.

Gabbe: O amor não é uma loucura?

Ethan: Diria que é loucura para quem não sabe como fazê-lo. 

(Ethan se vira e sai correndo.)

(Blackout)


CENA 3

Cenário: Quarto sujo, algumas coisas espalhadas. Ele não está na sua casa.

Ethan: (Ethan deita na cama). Esse travesseiro está tão duro... Deve ser por isso que eu não durmo a dias? Não, eu me lembro de algo mais, um olhar, lembro da cor vermelha... Por que eu não consigo tirar esses pensamentos da minha cabeça? (levanta). Talvez, com o passar dos dias eu fique melhor...  (Pega uma foto que estava em cima de suas coisas, parece uma família feliz). 
Quem são esses? Pensei que soubesse, mas já não tenho certeza... (olha para o espelho e tenta sorrir como na foto, porém o resultado é um sorriso triste). Não, isso não parece certo. (Estremece. Esfrega as mãos nos braços.) Desde quando aqui é tão frio? (Senta na cama). Esses pensamentos não param de chegar, por quê? Por quê? Não entendo! Pensamentos como borboletas voando em um sentido caótico, bem aqui na minha cabeça... Não fazem sentido algum. Por que eu sinto essas mãos puxando gentilmente minha alma? Elas querem me levar para algum lugar, chegam sorrateiras, silenciosas. Mas eu não entendo... Eu ainda estou vivo? Tenho que expulsar essas coisas da minha cabeça (coloca as mãos na cabeça e balança.) Sinto que devo começar minha vida de novo...  Algum dia. 

(Gabbe entra pela porta de súbito).

Gabbe: Ethan! Você está aqui! Eu te procurei por dias! Por que você sumiu?

Ethan: Não me lembro nada do dia em que fugi, só me lembro de um olhar, do vermelho mãe.

Gabbe: (Gabbe engole em seco.) Meu filho, eu fiquei desesperada! Pensei que tivesse acontecido alguma coisa ruim!

Ethan: Parece que aconteceu algo ruim mas eu ainda estou vivo, tem alguma coisa errada?

Gabbe: Não! 

Ethan: Eu mereço estar vivo?

Gabbe: Claro que sim meu filho! (Chega perto dele e o abraça.)

Ethan: (Balança as pernas.) Então eu vou começar de novo... Algum dia.

Gabbe:  (Sorri.) Que tal hoje? 

(Ethan olha para ela sem entender).

Gabbe: Esses homens bondosos vão te levar para um lugar onde você pode recomeçar.

(Dois homens de branco entram. Ethan olha confuso).

Ethan: (Passa as mãos no rosto, balança as pernas.) Eles vão me guiar para o lugar das mãos silenciosas? O lugar que me dizem na minha cabeça?

Gabbe: Você vai ficar bem. Ela lhe dá um beijo na testa.

(Ethan olha para um lado e para o outro, passa as mãos no rosto enquanto balança as pernas, ele se levanta e sai pela porta. Gabbe fica um tempo, olha as coisas do quarto totalmente séria, e lentamente sai fechando a porta atrás de si).


FIM

Autora: Camille Miranda

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