Recentemente, numa discussão sobre formação de grupo de teatro, uma jovem me interpelou dizendo "como podemos formar um grupo de teatro, se ninguém apoia nada e tudo é muito caro"? Minha resposta veio logo em seguida: "Sem novos grupos de teatro, não tem como saber de onde virá o apoio". Na verdade, o teatro é um instrumento poderoso para lidarmos com os mecanismos de exclusão e a "falta de apoio". Através de grupos, o jovem vai se organizando de forma "política" e começa a descobrir formas de acesso aos canais de diálogo com a sociedade. Logo, formação de opinião e mergulho no contexto de sua própria realidade faz com que se avance cada vez mais na direção de conquistas como cidadania, pertencimento e autonomia.
Esta tem sido a base das discussões dentro do OFICENA, lidar com uma juventude sedenta por expressar-se e, ao mesmo tempo, querendo muito mais do que apenas se formar numa escola ou encontrar um emprego. O jovem hoje quer entender o mundo de uma forma mais abrangente e precisa descobrir isso estando dentro do debate, de forma lúdica e provocada, sendo assim, não é possível viver numa sociedade sem renovação de quadros artísticos. A ampliação do contato com o teatro, através da formação de novos grupos, vai ditar diretrizes para um teatro onde não só o autoconhecimento e a autonomia estão em jogo, muito mais, trata-se de mergulhar na superfície de si mesmo para chegar ao fundo.
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TCC - Teatro Cabofriense de Comédia, dispõe de repertório
ainda em fase inicial e está buscando a rua para que sua atividade
torne-se sustentável.
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Manter força e vigor em sua criação, encontrar sustentabilidade mínima para atuar como grupo amador é sempre um bom início de jornada para os que estão começando. É necessário descobrir a ecologia de sua própria formação de equipe, dentro disso, distribuir o trabalho e focar não apenas na atuação como prática artística, mas também na construção do espetáculo e no desenvolvimento de ações que resultem num impacto, ainda que pequeno, para a comunidade, que também tem seu papel no processo. Acolher da forma como for possível, novos agentes e novas energias geradoras de subjetividade em seu bojo.
Breve Histórico do TCC - Teatro Cabofriense de Comédia.
O TCC - Teatro Cabofriense de Comédia, surgiu em 2014 e teve sua estreia como convidado do Festival de Esquetes de Cabo Frio - FESQ, com a cena "Ditadura", de Nathally Amariá. O grupo já vinha buscando seu repertório, iniciado nos bastidores do OFICENA - Curso Livre de Teatro de Cabo Frio, com a cena, "Jana, Pérola do Mar", texto de Nathally Amariá, direção de Jiddu Saldanha, que, posteriormente apresentou-se na primeira mostra de solos teatrais de Cabo Frio, FestSolos. No mesmo período foi produzido e encenado o solo teatral "A Contradição de uma Alma" com texto de Camille Miranda, atuação de Gustavo Vieira e direção de Jiddu Saldanha.
Na busca de formar seu próprio repertório, o grupo começou a buscar no NUDRA - Núcleo de Dramaturgia do OFICENA, a possibilidade de incorporar a seu repertório alguns outros trabalhos escritos e dirigidos por alunos do curso. Foi assim que surgiu a ideia de trazer as cenas: "O Estrelato de Gold", escrito por Kéren-Hapuk e Náthally Amariá e o texto "Os Vampiros Estão com Fome", escrito e dirigido por Kéren-Hapuk.
No início de 2015, mais dois trabalhos foram incorporados ao repertório do TCC, a cena curta "Eu só Liguei pra Dizer que te Amo", texto e direção de Jiddu Saldanha e a primeira montagem longa do grupo, a peça "Piquenique no Front", de Fernando Arrabal, dramaturgo espanhol, consagrado pela sua escrita única e caótica. Com um quadro de artistas, quase todos em início de carreira, o TCC pretende ser um grupo com formação de repertório e pesquisa teatral variada, embora tenha em seu nome a palavra comédia, entendemos comédia, aqui, como uma forma expressiva de levar a arte em todos os seus estilos. Não somos um grupo fechado no gênero humor, mas buscamos a profundidade da "comédia humana", um exercício quase psicanalítico de mergulhar na alma humana e extrair dela o que tem de mais profundo e risível.
O grupo é mais importante do que a legenda.
Muitos jovens se recusam a formar grupos com legenda, marca e rotina, por entender que estarão assumindo um compromisso, algo como um "casamento". Numa sociedade individualista e caótica como a nossa, pertencer a uma "família" pode exigir algum tipo de dedicação que não se tem disponibilidade para realizar. Porém, existem várias formas de "casamento", fazer parte de um grupo "sem compromisso" também é uma forma de atuar. Ajudar os colegas a desenvolver um trabalho em equipe, mesmo que sem estar todos os dias presente, não quer dizer que não seja uma participação importante. O teatro é algo que se faz em grupo e em equipe, e uma equipe não precisa estar o tempo todo "colada" entre si, o mais importante é estabelecer metas e doar-se um pouco para o conjunto, desta forma, o teatro acontece, novos grupos surgirão e todo mundo ficará feliz. Neste contexto, A ARTE AGRADECE!
"Alguns conselhos para quem quer formar grupo de teatro", leia tópico relacionado a este artigo!
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