O FESQ 13, foi um acontecimento especial e diferenciado, dentro da
estrutura dos últimos FESQS. Este, de 2015, primou pela reinvenção de sua
própria estrutura, tanto artística, quanto logística.
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O Bate Papo do FESQ é um momento onde os grupos podem refletir melhor sobre suas cenas e definir novos rumos para sua linguagem. |
Um evento cada vez
mais profissional e complexo, exige muito
dos produtores e das equipes constituídas, quer sejam, contratados, voluntários
ou convidados.
Dentre as formas de
reinvenção do FESQ, destaco o apresentador, Rodrigo Rodrigues, que entrou em
cena mais arejado, com uma gama de novos personagens e segurou a peteca do
começo ao fim. Dessa vez, além de construir novos olhares sobre suas personagens,
esteve mais enxuto no palco, e interagiu na medida certa de sua irreverência
característica.
Outro momento de
reinvenção foi a forma vigorosa como a produção investiu no teatro de rua, não só na
abertura de portas para grupos locais de forma planejada, mas também, por criar uma organização
mais eficiente e mais visível para toda a cidade.
O Teatro Municipal
de Cabo Frio, está cada vez menor, para abraçar um evento de tamanha
importância. O FESQ merecia mais espaço para se expandir, mas a produção o fez de
forma criativa; ao transformar o FESQ BAR num ambiente onde a festa,
definitivamente, se torna um momento para além do mero consumo, ocupado, definitivamente pela expressão artística.
Este ano, a presença do coletivo "La Vai Maria", deu, definitivamente ao território do FESQ BAR, uma aura de espaço totalmente tomado por artistas e pela arte.
Este ano, a presença do coletivo "La Vai Maria", deu, definitivamente ao território do FESQ BAR, uma aura de espaço totalmente tomado por artistas e pela arte.
SOBRE A CURADORIA
Cabo Frio ficou com
uma fatia suficiente na participação competitiva, dois grupos, (Trupe
Andarilhos e Creche na Coxia); mas houve inovação na participação de grupos
convidados locais e da região, além da presença de um dos grandes nomes do
teatro brasileiro, Guti Fraga.
A extensão do grupo "Nós
do Morro", situado em Saquarema, com seu espetáculo "O Rapé" foi um grande acerto, além da presença da peça "Vanice no País da Armadilhas", contemplando nomes de
peso de São Pedro da Aldeia, como a atriz Rafaela Solano e o diretor Marcelo
Tosta.
A presença do TCC -
Teatro Cabofriense de Comédia, fazendo a abertura do primeiro dia e
apresentações na rua e, também, a participação do OFICENA - Curso Livre de
Teatro de Cabo Frio, com a peça "O Inspetor Geral", foi, sem dúvida,
uma cartada positiva, na estratégia de inserção de novos artistas locais, no
complexo tabuleiro artístico da cidade.
SOBRE O JÚRI
Todo Júri é sempre
polêmico. Historicamente, foram raras as vezes em que a opinião do Júri,
coincidiu com a visão do público e dos artistas envolvidos na parte competitiva
do evento. Mas uma coisa que sempre procuro orientar, nos debates, é que um
Júri, composto por 3 convidados, se movimenta num complexo tabuleiro de xadrez,
revelando sempre sua própria tendência.
Na visão do público,
"tal peça é melhor e pronto". Já, na visão do Júri, existem
configurações estéticas que vão, de forma natural ou planejada, classificando
os trabalhos em tendências e possibilidades possíveis de intensos debates.
Hoje em dia, todos
nós sabemos que teatro não é uma coisa só, e sim, uma configuração artística
complexa onde se misturam escolas diferenciadas, níveis contrastantes e fusão
de linguagens que podem surpreender, tornando a cabeça do Júri, totalmente
focada no debate para conseguir, não só, contemplar o melhor, mas também as
tendências apresentadas no evento como um todo.
COMENTÁRIO SOBRE OS TRABALHOS PREMIADOS
MEU NOME É ERNESTO - Grupo Primitivos
Melhor atriz
Melhor esquete
Nem sempre uma cena
consegue agradar o público e o júri.
"Meu Nome é Ernesto" conseguiu esse feito. Levou os prêmios de
melhor esquete, e melhor atriz para Jéssica Menkel. Deixou o público extasiado
e impressionado com o desempenho tanto do elenco, quanto da caracterização.
Através de uma
pesquisa rigorosa, a equipe desta cena, conseguiu dar vitalidade a personagens
que passaram fragilidade e vigor, um verdadeiro desafio, pois, não é fácil para
atores jovens, interpretar personagens de idade avançada.
CHÃO DE PEQUENOS - Cia Negra de Teatro
Melhor direção.
Melhor esquete
Trazendo um teatro
engajado e ao mesmo tempo contemporâneo, a Cia Negra de Teatro, recebeu os
prêmios de melhor direção, para Thiago Gambogi. Além de ser uma das três
contempladas com o prêmio de melhor esquete.
A cena, construída
de forma quase haicaística, primou pela economia de signos. Evitou lugares
comuns e se apropriou de forma inteligente, dos elementos formais da linguagem
teatral e da dança-teatro, mesclando o discurso da compaixão e do inconformismo,
com a forte energia criativa de um elenco preparado e um diretor de mão segura.
A cena variou entre
a encenação e a performance, se fazendo valer de elementos como o teatro
invisível, que é de profunda reflexão política. A surpresa foi ver os atores fazendo
performance na escadaria do teatro de forma inesperada e que causou
grande comoção no público. Convenceu o Júri.
O VELHINHO E A MORTE - Creche na Coxia
Melhor esquete
Melhor figurino
"O Velhinho e a
Morte", traz um grupo coeso e vigoroso em cena, fazendo um tipo de teatro
que exige uma partitura corporal afinada e ativa, além de grande concentração
do elenco.
A peça tinha um ritmo impecável, com encaixes
que proporcionou grande prazer ao público e, também, ao Júri, que a premiou com
MELHOR FIGURINO e MELHOR ESQUETE.
A TERRÍVEL PLANÍCIE DE KENÓTITA - Coletivo Areia de Comer
Melhor ator
Melhor esquete júri popular.
Com excelente
desempenho em cena, o ator Matheus Macena, ganhador do prêmio de melhor ator,
foi quase uma unanimidade entre público e júri. Não foram poucos os entusiastas
que o saudaram como merecedor do prêmio. Sua movimentação de cena, com
riquíssima gramática corporal e uma voz soberba, trouxe-lhe, no FESQ, um belo momento de sua carreira.
A cena, muito bem
construída, fez combinar cenário, figurino e iluminação, além, claro, de um
belíssimo momento, onde a poeta Elvira, de Cabo Frio, de forma sutil fez uma
inteiração com Matheus Macena, ao colocar no tapete de livros de seu
personagem, o livro que fora escrito por ela. A cena, deixou o público surpreso
e, ao mesmo tempo, se inseriu no tempo poético do espetáculo. Coisas assim, só
se vê uma vez na vida. Neste momento,
Matheus mostrou sua personalidade ao transformar, pela mágica de sua interpretação,
o momento de intervenção, em pura poesia. Ganhou o espetáculo. Este
acontecimento ficará gravado para sempre, na memória afetiva do FESQ.
GOLDEN GATE BRIDGE - Grupo Suicidas Teatrais
Melhor texto
Melhor concepção cenográfica
Comédia que mistura
absurdo ao romantismo, com uma forte dose de niilismo, é impressionante a
eficiência do texto, que valeu, para Ygor Cosso, uma premiação de MELHOR TEXTO.
Trabalho original e divertido.
Levou também o
prêmio de melhor cenografia, para Marcela Rica e Ygor Cosso; solução
inteligente para reconstruir a ideia da famosa Golden Gate. O cenário, parecia
uma escultura que dava uma bela possibilidade de triangulação para os atores
que o fizeram, o tempo todo, em plano alto e com muita competência. Foram reconhecidos pelo Júri, que percebeu a sofisticação de uma comédia inteligente e eficiente,
no palco.
VALKÍRIA - GRUPO TEATRALHA
Prêmio Especial do Júri
O Grupo TEATRALHA,
impressionou pela presença e engajamento no FESQ, compareceu em todos os
debates e não perdia nenhuma apresentação, tanto dos colegas, como da programação
extra do evento. O tempo todo, participando das ações e marcando presença nos
debates, foi, aos poucos, impondo sua militância artística.
A esquete
"Walkíria" foi provocante em diversos aspectos, pois, além de
constituir num imenso desafio à atriz Larissa Gonçalves, que tinha de correr o
tempo todo em cena, enquanto dava o texto, criando ótima interface com o trabalho autoral do próprio Jô Bilac, que o escreveu, como um
exercício de linguagem, sugerindo uma forma diferente de carpintaria dramatúrgica.
* Jiddu Saldanha é coordenador dos debates do FESQ.