De uns tempos para cá, Cabo Frio tem se dado conta da presença de um grande profissional do teatro brasileiro. O nome dele é Mauro Silveira, nasceu em São Paulo e viveu durante muitos anos no eixo Rio-São Paulo, até assumir o Rio de Janeiro como sua morada. Fez teatro com os grandes nomes do teatro Brasileiro, fez TV, tornou-se administrador e organizador de grupos e companhias de teatro além de ser um grande trabalhador pela união da classe artística.
Foi um prazer entrevistá-lo, e tem sido uma alegria, encontrá-lo trabalhando firme com seu novo grupo de teatro que vem ensaiando sem parar, o novo espetáculo que está vindo por aí. É com prazer que apresento aos leitores do blog Teatro Possível, esta grande figura do teatro brasileiro. Com vocês: Mauro Silveira...
Teatro Possível - Na tua percepção, o que o teatro perdeu e ganhou
nos últimos 40 anos, aos olhos de um observador atento.
Mauro Silveira - Em 1970, quando estreei como artista
profissional, fazíamos apresentações de terça a domingo, sendo 2 sessões
quinta, 2 sábados e duas domingos. Como eu fazia teatro Infantil no Teatro de
Arena de SP; eram 3 sessões e pouco depois comecei a fazer teatro juvenil; eram
4 sessões e ainda saíamos para jantar, curtis, namorar (fui bom nisso...)
Com o advento da TV Aberta, das TVs a
cabo, do vídeo cassete, dos DVD,s, da Internet, cada vez mais temos
dificuldades em tirar os expectadores de casa e colocá-los numa plateia de
teatro.
Na minha juventude, nós, artistas,
tínhamos um inimigo poderoso e que nos tomava todo o tempo para que lutássemos
contra ele: nos palcos, nos bastidores, nas ruas: A ditadura militar. A censura!
Tínhamos a população a nosso favor. Hoje, sem esta motivação, temos que quebrar
a cabeça para encontrarmos matéria prima (ideias) para sensibilizar o público a
participar das nossas aventuras!
![]() |
As muitas caras de um artista dedicado. |
TP - Cite alguns momentos da sua vida artística que te fizeram manter-se
firme no caminho.
MS - Em 1970, no Teatro Ruth Escobar - SP - a Polícia Federal prendeu
um dos atores de nosso espetáculo, o famoso "O Balcão", de Jean
Genet, direção de Victor Garcia. Aquele ato de violência contra um colega me
fez preocupar-me com a minha (e a dos meus companheiros) foi ali que assumi o compromisso
de lutar contra o autoritarismo.
Outro momento foi quando estreei como
Produtor Executivo com a peça "As Desgraças de uma Criança", com
Marco Nanini, Marieta Severo, Wolf Maya e Camilla Amado... era aqui que eu
queria: ser um homem de teatro: ator, produtor, diretor.. e em 1982 quando me
formei na Rede Globo, como autor roteirista, na primeira turma, aprendi a criar
matéria prima para espetáculos, teatro, cinema, televisão, rádio, show, etc... e
por fim, quando me aposentei, olhei para trás, vi meu currículo e tive a
certeza de que não poderia ter feito outra coisa: Sou artista com muita honra!
TP - Como você vê a carência de
profissionais e serviços ligados ao teatro, em nossa região?
MS - A carência não é de pessoal, mas
sim de espaços de trabalho para os profissioinais de artes cênicas, (Artistas e
técnicos)... Faltam salas de espetáculos, faltam emissoras de TV cumprindo o
"PRECEITO CONSTITUCIONAL DA REGIONALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO CULTURAL E
ARTÍSTICA" e faltam políticas públicas que possibilitem a ampliação deste
mesmo mercado de trabalho para os profissionais e de expressão artística para
os munícipes.
TP - Que conselho você daria aos jovens que querem fazer teatro hoje,
dentro da atual conjuntura local e nacional?
MS - Conhecimento... A pessoa que deseja navegar neste barco tem
que se propor a buscar o conhecimento para poder expressar-se, transmitir,
comunicar-se, sabendo o que, do que e como está fazendo. Não existe um ator se
ele não tiver a capacidade de aprender, de apreender, de buscar a cultura e
transmiti-la....
![]() |
Atualmente, aposentado, Mauro é morador da Iguaba, em Araruama e dedica-se a fazer teatro em Nossa Região. |
TP - Como foi conviver com grandes nomes do teatro brasileiro, o que
você aprendeu e ensinou para eles?
MS - Na peça que estreei, em 1970, a
dona do Teatro e da companhia, protagonista da peça, a atriz Maria Della Costa;
estava em seu camarim maquiando-se quando entraram duas garotas com um caderno
à mão para entrevistá-la para um trabalho escolar. Ela ia respondendo, muito simpática,
enquanto maquiava-se. De repente, veio a pergunta: "Dona Maria, de onde
surgiu o teatro????", Maria, nesta altura, colocava os cílios postiços.
Parou, olhou para trás, disfarçou e perguntou: - "Como é mesmo a
pergunta?"; "Qual a procedência do teatro?"; e ela, soberana,
respondeu: "Ora minha filha, teatro é teatro desde que o mundo é
mundo!". Foi isto que aprendi. Tecnicamente, aprendi com Flávio Rangel, diretor
de quem fui assistente aos 19 anos de idade, tudo o que existe numa caixa
cênica. "Andar num palco é como pisar num ninho de ovos, estamos lidando
com a sensibilidade daqueles que aqui trabalharam. Um olhar enviesado, pode
estragar um espetáculo, fazer o ator perder a personagem. Portanto há que se
saber andar pelos caminhos da emoção, da sensibilidade, do ofício de
representar: Ser ator!"
TP - Quais são suas leituras preferidas? E quais as suas maiores
influências?
MS - Além de
ator-cantor/diretor/produtor/roteirista, sou pesquisador de História da Música
Brasileira (tendo sido verbetista do Dicionário Albin de Música Popular). Minha
especialidade são os anos 1900 (quando se instala no Brasil e Indústria de
Gravação de Discos - CASA EDISON 1902), portanto, leio muito sobre a História
da Música, que é ligada com a História do Teatro, próximo a História do Rádio e
também passa pelo cinema e pela literatura. Gosto muito de biografias, também.
TP - Quem é Mauro Silveira por Mauro Silveira?
MS - Um chato que não bebe, não fuma,
não usa drogas, não frequenta bares, não vê TV, não gosta de futebol e adora
namorar.
Quando eu era muito criança, minha
mãe percebeu em mim algum talento para as artes e foi comigo até a TV EXCELSIOR
de São Paulo, à época a emissora de maior sucesso e ensinou-me o caminho, como
chegar, qual ônibus, etc... Assim, quando fiz 18 anos, saí de casa e fui buscar
realizar meu sonho de ser artista.... e estou buscando realizá-lo até hoje. Um
dia, quem sabe, eu consiga ser um bom profissional, um bom colega e que a
humildade tome conta da minha vida, para que eu possa preservar minha emoção e
o prazer de, sempre que possível, subir num palco e falar cheio de orgulho:
ESTE É O MEU OFÍCIO!!!
Este é um bate papo bem humorado que fiz com
Mauro Silveira, curta este momento de 2011.
Mauro silveira, atuou na novela Cidade Jardim, em 2011, dirigida por Guilherme Guaral. Foi a primeira novela completa feita numa cidade do interior com produção local. Assista todos os capítulos, na ordem, basta CLICAR AQUI para ver Mauro Silveira e seu eterno brilho.
NÃO GOSTO DE ELOGIAR, POIS TENHO MEDO DE PERDER...MÁS É MUITO LEGAL TER UM MESTRE POR PERTO....
ResponderExcluirsou um ator que tem como opício: INCOMODAR : Fazer o outro pensar e reagir, rindo, chorando, emocionando-se!!!!! Já me dou por feliz em poder atuar!!!
Excluir