TEATRO PARA DANÇAR

sábado, 17 de dezembro de 2011

Sérgio Britto. A Despedida de um Ícone do Teatro


Em 2008 durante o centenário da imigração japonesa no Brasil, tive o prazer de conhecer o monumental ator Sérgio Britto. Fui à sua casa, convidado por ele, para conhecer seu rico universo de ator. Ele me mostrou sua coleção de filmes e textos teatrais. Contei para ele minha velha ambição de montar textos de Fernando Arrabal em Cabo Frio e ele interagiu comigo, falando do grande dramaturgo espanhol, que conhecera pessoalmente.  Quando soube que sou mímico, Sérgio Britto até se desculpou, disse que eu devia estar no programa dele para falar da minha arte mas expliquei a ele que também sou apaixonado pela literatura japonesa e que me sentia honrado do mesmo jeito.
Fui convidado para fazer uma participação no programa “Arte com Sérgio Britto” para ler os Tankas da poeta nipo-brasileira Mitusuko Kawai. Foi uma grande experiência e ainda que falássemos muito da literatura japonesa, passamos a maior parte do tempo trocando idéias sobre teatro, o que para mim, valeu por, pelo menos, um mês internado em qualquer escola de teatro atual. Estar em contato com um grande artista e, o que é melhor, ouvindo pessoalmente seus comentários viscerais sobre o mundo da arte não tem preço.
Na semana seguinte, durante a gravação do programa, Sérgio Britto me entrevistou várias vezes até escolher o momento certo para ser editado no programa de maior audiência da TV-BRASIL. O programa “Arte com Sérgio Britto” além de alto nível foi uma das mais belas surpresas televisivas no Brasil dos últimos 20 anos. Em seu programa semanal sobre arte, Sérgio Britto discorria sobre tudo, com um excelente roteiro, ótimos textos, a maioria escrito por ele que adorava pesquisar pautas para o programa. Humilde e curioso ele fez diversas perguntas a mim sobre a prática do Haicai no Brasil.
Em Curitiba, nos anos 80 eu já havia assistido a uma peça onde Sergio Britto contracenava com Natalia Timberg num texto sobre Bernard Shaw. Lembro de pegar seu autógrafo e, ao saber que eu tinha um nome indiano, ele escreveu a palavra “Namastê” no meu velho caderninho de autógrafos de grandes artistas.
Já em 2008, 22 anos depois de tê-lo assistido no teatro Guairá, em Curitiba, ele me falou da vocação da profissão de ator. Me incentivou a continuar e aceitar as riquezas e misérias da profissão e não deixou de lamentar o fato de tantos jovens hoje, com vocação artística, debandarem para outras profissões em busca de uma “segurança ilusória”.
Dos meus dois breves encontros com este grande mestre do teatro, ficou a lição de que vale a pena lutar pelos sonhos pessoais.


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