TEATRO PARA DANÇAR

sábado, 3 de setembro de 2011

Comentário dos trabalhos premiados no 9º Fesq.

É isso aí, pessoal, este é o espaço do blog Teatro Possível voltado para comentar de forma específica os trabalhos que foram premiados no 9º Fesq. Esperamos com isso, estabelecer um diálogo e valorização dos trabalhos apresentados, levando em consideração  a visão crítica inspirada em diálogos com o Júri, o Público e nos debates.


Banzai
Grupo Os PathaPHísicos – RJ
Indicado ao prêmio de Melhor direção

O grupo PhathaPHísicos tem uma linha de pesquisa em comédia que a cada ano vem sendo mais reconhecido pelo júri do festival. Um estilo de comedia que traz para o palco um flerte frontal com a arte cinematográfica mostrando referências poéticas e um fino trabalho de iluminação que a cada ano ganha mais corpo.
Na cena Banzai, o humor tinha uma ótima pegada nonsense e satirizou os filmes de Kung Fu. Mais do que uma simples sátira o filme fez um pastiche brincando com a cultura chinesa, japonesa e italiana, misturando estilos cinematográficos num jogo onde o público praticamente sentiu dor no diafragma de tanto rir.
Tempos de cena muito bem articulados deram vigor à cena. Tudo na cena “Banzai” é referência, desde os filmes de Tarantino até os filmes de máfia dos anos 50 e os filmes de artes marciais dos anos 70.
Apesar da excelente pesquisa, ótimos atores e bom figurino, o problema que vemos na comédia é que ela sempre nos faz rir quando é novidade. Num segundo momento, o trabalho perde vigor e as piadas parecem já não funcionar tanto. “Banzai” caiu nesta armadilha e não teve um resultado tão impactante como visto da primeira vez.

(Jiddu Saldanha)


Nem o Pipoqueiro
Coletivo Nu – Belo Horizonte
Prêmio de Melhor Esquete

Com forte dose de ironia, a cena, “Nem o Pipoqueiro” arrasta o público para o labirinto da profissão de ator, mostrando um perfil decadente e pessimista da profissão, não sem uma profunda reflexão sobre a arte de atuar.  Além de ótimo exercício cênico onde os tempos são mostrados de forma não linear, o espetáculo soube dosar a exuberância das atrizes com papéis fortíssimos e convincentes.


A cena, devido à sua forte ironia, provocou risos de desconforto na platéia e o trabalho de direção soube lidar com um tipo de ritmo criativo e inventivo, dando ao espetáculo momentos de anticlímax que resultaram num quebra-cabeça estético que se mostrou bem eficiente.
As atrizes estavam equilibradas nos papéis e a intervenção de audiovisual durante a encenação foi no mínimo, surpreendente já que mostra uma das personagens saindo do palco para comprar cerveja fora do teatro até retornar novamente à cena. A sincronização entre o real cênico e o real cinematográfico nos deu uma inteligente intervenção de audiovisual no teatro mostrando que a mescla de linguagens funciona se feito com boas idéias.
O grupo manteve o rendimento entre a primeira e a segunda apresentação o que nos fez ver, tratar-se de um trabalho consistente e bem ensaiado. Ficamos, no entanto, com a sensação de que a voz, das atrizes, se perdeu um pouco, talvez um investimento na vocalização leve esta bela cena â excelência, de fato.

(Jiddu Saldanha)

Sobre Viventes
Cia 5ª Marcha – Belo Horizonte
Prêmios:
Melhor atriz para Dayane Lacerda
Melhor esquete
Melhor direção

Dayane Lacerda - Prêmio de
Melhor atriz no 9º Fesq.
O espetáculo “Sobre Viventes” flerta com o melhor da linguagem contemporâneo sem perder o vigor poético e ético de bom teatro. Posiciona em cena dois excelentes atores (Rafael Lucas Bacellar e Dayane Lacerda) da nova geração de BH. Ambos pulsantes, apaixonados, técnicos e ao mesmo tempo passionais. Com a sensibilidade aberta para explorar, no placo, os caminhos labirínticos da arte de ator.
O esquete abordou de tudo. Além de boa literatura - pois o texto foi recriado a partir de obras de Ana Cristina César e Caio Fernando Abreu – as composições cênicas levaram ao palco um rico universo de signos para falar de dois poetas emblemáticos redescobertos por uma nova geração de diretores, cineastas, dramaturgos e por aí vai.
Na linguagem cenográfica, a disposição de objetos caoticamente organizados mostrou um ambiente de entrega absoluta e completamente mergulhado em metáfora. A fala das personagens atingiu nuances reais/poéticas presenteando o público com sentimentos de amor, compaixão e prazer. A abordagem sexual contundente fez o sensível interagir numa dimensão profundamente humana e o grupo revelou ao público sua própria capacidade de “entender” o mundo que estamos vivendo.
As bandeiras de luta, o engajamento social e a subversão da sexualidade programada pelo sistema são panos de fundo para um trabalho que produziu eco entre os expectadores, foram cenas com ritmo, boa voz dos atores, direção segura e até performance dentro da cena, pois, uma intervenção muito bem arquitetada pelo grupo fez a platéia dançar no palco junto com outros grupos presentes no festival, realmente, uma das mais belas cenas já vistas na história do Fesq.
Concluo dizendo que o júri acertou em cheio ao premiar “Sobre Viventes”. Isto era esperado pela platéia. Um espetáculo que conseguiu bons resultados não só pelo impacto do ritmo e do contexto mas também pela profundidade com que calou no coração de cada expectador ali, presente, naquele momento.

(Jiddu Saldanha)


Acontecia em 1950
Cia Duplos - BH
Prêmios: 
Melhor esquete pelo Júri Oficial
Melhor esquete pleo Júri Popular

No 9º Festival de esquetes de Cabo Frio, (Fesq)  um trabalho focado no teatro físico chamou a atenção do público. Cenas como esta já era apresentada pelo grupo local “Os Intrusos”  com uma pesquisa voltada para o Clown, utilizando riquíssimos recursos da palhaçaria teatral, já a Cia Duplos, trouxe uma linguagem toda focada na partitura corporal oriunda das escolas européias de mímica teatral e/ou teatro físico. O trabalho mostrou atores habilidosos, treinados dentro de uma concepção de teatro de vanguarda onde o resultado é divertido, embora descritivo.
"Acontecia em 1950" Cia Duplos. Prêmio de melhor esquete no 9º Fesq.
O grupo escolheu como tema central um quadro do Pateta, animação da Disney, provavelmente de 1950, que dá título ao esquete. “Acontecia em 1950”.
Adaptado de forma inteligente, mas com o arcabouço dramatúrgico bem similar ao filme da Disney. 
Em cena, os atores executaram de forma divertida e com nuances sutis a linguagem mimo-teatral de forma bem inteligente, com ritmo de desenho animado e gostoso de se ver. Sem dúvida um trabalho com efeito cômico que produziu resultado imediato levando a platéia ao encantamento imediato.
Mas uma das reflexões que quero fazer aqui é a escolha do tema e o propósito do elenco e da direção, ao executar algo inspirado em PATETA. Obviamente, que, de forma bem humorada o tema cai bem nos dias de hoje, principalmente no Brasil, onde o trânsito mata mais do que na guerra do Iraque, Afeganistão e Líbia, juntos.
A abordagem cômica e ilustrativa, recheada de humor e perfeccionismo coloca o problema sem discuti-lo. Uma dificuldade, talvez, deste tipo de teatro que surgiu, principalmente, muito mais como técnica para o ator do que propriamente para uma ação dramatúrgica mais contundente. Ainda falta, no teatro físico, um trabalho dramatúrgico mais aprofundado e mergulhado na realidade universal brasileira. Cada novo grupo que surge nesta área, acaba repetindo um padrão de composição muito adotado na Europa, principalmente pelos grupos espanhóis e ingleses.
Mas ainda que ausente de uma dramaturgia mais aprofundada o grupo Cia. Duplos tem o principal: Formação coletiva, nível técnico, empatia e Capacidade. Falta apenas, talvez, uma pesquisa mais aprofundada para construir trabalhos mais originais. Vamos esperar o próximo trabalho deste promissor grupo de atores mímicos, ou Teatro Físico, como queiram ser chamados.

(Jiddu Saldanha)

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