Conheci Shita Yamashita na cidade São Matheus, ES, durante o festival de teatro de rua daquela cidade, era o ano de 2012. Me impressionou sua autonomia, sua liberdade de ir e vir nas suas multifunções, numa combi, ele tinha de tudo, material circense, seus aparelhos de trabalho. No final da noite, numa festa de artista, ele puxou um equipamento portátil e animou a festa com uma seleta musical impagável. De repente, aquele artista que eu via, filosofando com os alunos de forma bem humorada, transformou-se num DJ. Diante de tanta sabedoria e entrega à vida artística, também me tornei uma espécie de "discípulo secreto" desta pessoa incrível, o seguia discretamente pelo festival e, como quem não queria nada, me aproximava apenas para ter o prazer de sua companhia. De lá pra cá, acompanho tudo o que ele faz, pela rede social, já que nossas rotinas são bem diferentes. Mas este é o artista que quero que todo mundo conheça, Shita Yamashita é um saltimbanco da esperança!
(JKS)
Fracasso e Sucesso na vida de um artista.
(por Shita Yamashita)
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Shita Yamashita apresentando o seu "CIRCO MIUDINHO" |
"Sempre pensei o
fracasso e a gloria como irmãos univitelinos, me parecia natural e constante,
sempre surgiam juntos. É uma questão de escolha de estilo de vida, penso. Fazer
teatro nunca foi a escolha segura, aquela que lhe permite sentar em cima das
próprias convicções e trabalhar pensando em um dia poder parar , com uma
aposentadoria digna e uma janela pra observar. Você conhece algum ator
aposentado? Quando criança queria ser bombeiro, pirava nos caminhões vermelhos
e nos capacetes, mas a ideia de usar um uniforme, nos anos de chumbo, me
parecia desconfortável. Eu ouvia no bar do meu pai, lá na nossa cidadezinha do
interior paulista, historias horríveis sobre os militares e suas atitudes me
deixavam com vergonha de um dia sentir o fardo de usar uma farda. Por sorte,
mamãe me colocou no teatro. E isso mudou todo o meu destino. A admiração que
sentia pelos meus professores, despertou em mim a vontade de ser igual a eles,
ser “artista”. Eles me mostraram um caminho, dos 7 aos 12 anos. Depois disso,
fui por conta, tomei gosto, nunca mais parei, e nem pretendo. Já apresentei em
circo, teatro bonito, teatro fodido, praça, escola, praia, hospital, fabrica,
clube, aldeia indígena, puteiro, garagem, semáforo, presidio, assentamento,
igreja, quartel... Tenho tido sorte, na maioria das vezes as coisas vão bem, a
experiência é interessante, conheço lugares, pessoas, ganho algum dinheiro,
amigos, me apaixono, vivo romances, deixo fluir. Mas às vezes, a coisa não
acontece, você trabalha , planeja, se esforça, e por uma conjunção de fatores,
não rola. Faz parte do jogo, a gente sabe, mas machuca. E as vezes te derruba,
moral e financeiramente. Não tem jeito, está sempre tudo ali, a tragédia e a
comédia, o fracasso e a gloria, o teatro é isso, trabalho, suor e prazer, quem
vai querer?? Bem, eu quis, e aqui estou, nem sempre ganhando, nem sempre
perdendo ,aprendendo a jogar. Ontem foi ruim, mas amanhã vai ser melhor!
Amparo-me na frase de Mahatma Gandhi “ Não vale a pena ter liberdade se ela não
inclui a liberdade para cometer erros.” Uma boa semana para todos!!"
Disse tudo, nobre Shita Yamashita, te vejo pelas estradas da vida, ou quem sabe, no FestSolos 02.