O espetáculo “Viagens de Américo”,
monólogo de Ricardo Amorim, pesquisado a partir da obra do historiador Márcio
Werneck, mostrou uma possibilidade bem acabada de um teatro genuinamente local,
com tendência a ganhar os palcos pelo Brasil a fora. Com um trabalho dramatúrgico
interessante é daqueles espetáculos que, se tratado com carinho pelos fazedores
do mesmo, pode construir uma bela história por si só.
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Com ótimo acabamento artístico, o espetáculo "Viagens de Américo" tem grande potencial futuro e já deu a largada, dizendo a que veio. |
Em primeiro lugar, a primorosa
cenografia, limpa, simples e direta, combina com o estilo demonstrado no palco,
uma cadeira multiuso é explorada, ainda que, timidamente pelo ator, e dá ao espetáculo
instigante composição visual deixando o público curioso para saber o que
acontecerá nos próximos 40 minutos. A tonalidade de branco, a partir da cor das
folhas de papel espalhadas pelo chão com um figurino, não menos interessante, e
que, através de um tom quase salmão, compõe uma visualidade quase celestial da
figura de Américo Vespúcio.
A maquiagem segue a tendência do
figurino, explorando tons em branco, com uma espécie de pó branco que se
espalha pelo palco criando um efeito de luz conforme os refletores vão
interagindo com a cena.
Em que pese o belo visual do
espetáculo e a harmonia entre as linguagens de luz, maquiagem e cenografia, o
que se pode ver é que, na arte de ator, o trabalho ainda carece de mais
pesquisa e seu crescimento é extremamente possível, obviamente, se Ricardo
Amorim atentar para as técnicas que a cena por si só, sugere. Falta uso mais
intenso da mímica corporal e recortes mais definidos entre fala e personagem. É
um trabalho com potencial para solo narrativo, mas que ainda não se assenta
totalmente nessa linguagem, já que as cenas oscilam entre marcações clássicas e
arroubos contemporâneos na forma de mover-se no palco.
Em outras palavras, eu diria que,
o espetáculo está no caminho certo e contém os elementos necessários para encantar
e o que posso recomendar é mais ousadia no palco, pois, o espetáculo tem a víscera
que precisa para encantar plateias de todo o Brasil.