Cia PIGMENTUS de Rio das Ostras.
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Cartaz referente à apresentação do espetáculo em Rio das Ostras, na casa Pigmentus. |
O público de Cabo Frio viu, na sexta feira, dia 19 de Abril, o espetáculo “Os
Sete Gatinhos” de Nelson Rodrigues, levado à cena pela Cia. PIGMENTUS, de Rio
das Ostras, trazendo mais uma tragédia urbana carioca, só que desta vez, adaptada
por Marcelo Evangelista, para um contexto rural, trazendo a realidade “rodrigueana”
para um rincão de alguma cidade de interior.
A coragem de mexer na obra
de um grande mestre, não feriu o cânone, ao contrário, deu uma perspectiva mais
próxima fazendo com que ela chegasse de forma visceral ao encontro do público Cabofriense.
De início o espetáculo começou
arrastado, com um ritmo que parecia não envolver o público, embora, as
primeiras imagens já mostrassem se tratar de um espetáculo de qualidade e com a
marca registrada do mesmo grupo que apresentara, ha alguns anos atrás no FESQ
(Festival de Esquetes de Cabo FRIO), a inesquecível esquete “Philippe Glass
Compra Pão”, dirigida pelo mesmo diretor, Ritcheli Santana.
A dificuldade maior que
pudemos sentir, foi a projeção da voz de alguns atores que, num teatro sem tratamento
acústico adequado, como é o caso do teatro municipal de Cabo Frio, o som acaba por se dispersar nas
paredes do fundo do palco, feita de tijolos. Mas o trabalho de projeção de voz
é um fato corriqueiro a quase toda a nova geração de atores, que investe muito
mais nos recursos corporais e não tanto na voz. Apesar disso, e entendida as limitações aparentes, o elenco se adaptou rapidamente e passou a jogar
melhor com a voz, principalmente quando, o experiente ator Vivaldo Franco, no
papel de Noronha, entrava em cena com sua bagagem e experiência. Ele dominou a limitação da caixa cênica e cobriu a
audiência com sua bela performance, tanto vocal como de demonstração de seu personagem.
Percebemos a mão do diretor presente o tempo todo, no espetáculo, com uma linguagem sólida,
Ritcheli demonstrou ser um maestro consciente de sua função, o que deu ao
espetáculo uma vitalidade e conseguiu imprimir sua peculiar linguagem sem
vacilar.
A cenografia era prática e multifuncional, criada por Lorenzo Prucolli, e deu para perceber uma
harmonia estética entre os dois grande praticáveis que se moviam pelo palco
através da manipulação feita pelos atores; e tudo coroada pela inteligente intervenção da iluminação criada por Carlão Ribeiro. Também destacamos o bem bolado uso de objetos de cena, do qual
destacamos aqui, o banco de madeira que em determinados momentos contribuía para realçar momentos de tensão. Nas cenas mais próximas do final do espetáculo, Ritchelli criou uma complexa teia de marcações de cena atreladas à luz e ao posicionamento do cenário móvel, dificílimas de executar. Foi neste momento que o espetáculo criou uma bolha e perdeu o ritmo até recuperá-lo, nos momentos finais e apoteóticos do espetáculo.
Sobre o elenco, podemos
dizer que estava equilibrado e com interpretações honestas. Entendemos que, quando
um espetáculo exige dos atores diversas funções para realizar o propósito
estético do diretor, fica mais difícil, para o elenco, dominar completamente a
partitura da cena, a não ser que haja muito ensaio e uma generosa temporada com
diversas apresentações, a despeito disso, afirmamos que o espetáculo foi bem sucedido por aqui com uma platéia pulsante que fez questão de aplaudir de pé. Fica também um destaque para o ator
Paulo Barbeto, por sua ousada composição corporal e vocal na rica construção dos
personagens Dr. Portela e Dr. Bordalo.
No computo geral, podemos
afirmar categoricamente que o espetáculo, “Os Sete Gatinhos” conquistou o
público e proporcionou momentos muito importantes para o público presente no Teatro Municipal de Cabo Frio.